terça-feira, abril 28, 2009 

Venha, fogo, venha!


Com tanta chuva quanto temos visto, fica até difícil pensar em fogo, alguns podem dizer. Mas o fogo está na mente. Está na consciência: tranformando, explodindo, derretendo e dando novas formas - até mesmo mudando estruturas químicas; fusão de pensamentos, como a fusão de corpos. Do sol nascente até o clímax do meio dia, do sol escaldante das duas da tarde até a despedida em plena glória, indo embora apenas depois de um espetáculo diário, porém não menos inigualável.

Quem se importa? Ora, todo dia temos o sol e não há nele nada de novo, alguns podem dizer. Mas um dia sem o sol seria a diferença suficiente para criar o nada. A mente, capaz de entrar em atividade tão intensa quanto o calor pode causar àquilo que é físico, também pode ficar estática como um dia sem sol. Como vida sem luz. Tudo é umma coisa só, só uma coisa, afinal.

Quis escrever num diário o comportamento diário do sol, quis escrever um diário só pra ele. Contudo, sem ou com diário ele continuaria cumprindo seu papel. E eu? Quem sou eu? Morro e renasço a cada dia? Esta é a lição que ele quer me ensinar. Uma nova consciência, a cada dia mais consistente e ao mesmo tempo mais aberta. Mais límpida e fluida como a água, a água que o ciclo solar faz girar no seu próprio ciclo. As coisas estão nas coisas, é tudo uma coisa só, e o sol é a eterna chama modificadora. Dentro de mim tento recriar essa chama, e não deixar que ela se apague: nem mesmo porque é noite, não significa que já não haja mais sol - é apenas a sua hora de estar lá, mas estar fora de alcance.

O mês de maio se aproxima, as chuvas ainda estão firmes a cair nos telhados, mas logo o lado claro do ano se abre... Quem se abre com ele? Ele convida os frutos de verão a crescer, convida os seres ao amor e à vida e convida-nos a abrir a consciência em flor, como se abre uma flor do dia, como gira o girassol.

Venha, verão, venha!

imagem: Deviantart; fahsi

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domingo, abril 19, 2009 

Estrela


Sentou, debaixo da árvore que pensou que nunca cresceria, com um presente em mãos. O livro era uma espécie de promessa, começou a ler há meses, mas, há muito, não tinha retomado a leitura. A família estava reunida dentro de casa, havia gritos e algumas risadas estridentes; Estrela estava cansada de tanto barulho. O livro foi uma desculpa para si mesma, para sair de casa, ir à calçada e sentar debaixo da árvore. Umas duas horas da tarde, talvez, quase ninguém na rua. Era melhor que dentro de casa.

Ganhara o livro no último fim de ano, de uma tia que morava no exterior. Tinha uma curiosidade enorme de saber o que existe fora do Brasil – como se lá existissem extraterrestres ou coisas assim tão diferentes. Então logo que ganhou o livro, beliscou umas páginas. Mas viu que o livro não respondia às suas perguntas, não dizia nem sequer como era lá. Pobre da tia, como iria saber da curiosidade tão específica da menina? De qualquer forma, achou que deveria mostrar estar muito satisfeita com o presente, mais do que realmente estava, esse é o certo: é assim que os adultos fazem. Como quando a mãe ganhou meias de inverno. Tinha quase mofo: a mãe nunca as usou. Mas pelo telefone, parecia muito empolgada com as meias, coloridas e de dedinho. Coisa tosca pro Ceará.

Então, com as páginas marcadas com uma fita azul antiga, Estrela voltou a ler. Foi se admirando: quantas coisas eu esqueci... Ah! O Carlos que é primo da Verônica e não a Angélica... E foi retomando o clima da história. Como não percebi que era assim tão legal? Era cada vez mais empolgante. Deu risadas. Arregalou os olhos. Em seus nove anos de idade nunca tinha visto coisa assim tão interessante.

Acabou um capítulo.

A página em branco.

O impacto.

Não esperava a página em branco, sinceramente, com toda a sinceridade que uma criança pode ter, com toda a sinceridade que ainda restava-lhe como criança. O branco da página era o vazio dentro de si: o vazio que se tem como quando alguém começa a contar uma novidade, um segredo, uma fofoca, mas repreende-se antes que termine o relato. A menina arregalou os olhos outras vezes, mas a página em branco foi o choque maior.

Queria vingar-se do livro. Queria insistir pra que quem começou a contar, agora que conte logo tudo, tudinho, até o fim da história. Engoliu em seco. Viu o número em algarismo romano, olhou pra página onde tudo recomeçava. Na verdade, continuava, mas parecia mesmo um começo. Um recomeço. Como se Estrela precisava de uma nova dose de coragem pra ir em frente. Como passar de fase no videogame. Só que aquilo era um desafio que o livro, quase vivo, agora fazia à menina, com as mãos no bolso, que nem filme de faroeste. Quis fechar o livro e fingir que nada daquilo acontecera, que simplesmente acordou de um pesadelo e a realidade é outra, sem conexão alguma com seus sonhos.

Mas não era um sonho. Agora não tinha escolha. O livro a enlaçara pelo pescoço, como quando a avó pegava a galinha pro almoço em família – sim, ela, escondida, vira esse assassinato uma vez.

Raciocinou que fechar o livro era mentir pra si mesma. E entendeu que o livro não era feito pra responder às suas perguntas, mas para causar-lhe ainda mais perguntas, até que estivesse tão confusa como um adulto.

imagem: Deviantart; alejka

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quarta-feira, abril 15, 2009 

Medo de olhar, medo de gente

Meio de tarde. Céu nublado. Céu tão nublado, tão nublado que as nuvens já não tinham mais formas de um fofo algodão doce. Parecia um monte de algodão esticado no céu, quase gaze. O sol parecia um buraco de luz, ofuscado pelas nuvens. Se não fossem umas três da tarde, Arian teria duvidado se aquele era mesmo o sol; se não já não era a lua, porque o sol parecia humilde iluminando tão pouco no céu. Sentada na calçada, Arian esperava o ônibus. E esperava a chuva também.

Passaram dez minutos e nada. Havia outras cinco pessoas esperando naquela parada. Olhavam-se disfarçadamente. Os olhares faziam de tudo para não se encontrar. Ela mesma o fazia, apesar de achar que fosse mesmo um erro as pessoas se evitarem tanto, até no olhar. Vergonha, receio, desconfiança, curiosidade, evitar intromissão, por que se escondiam? Era por isso tudo. Olhavam o chão quando os olhos encontravam os olhos alheios, quase automaticamente. Mas Arian sabia que a gente sente o olhar pairar sobre nós, como uma espécie de energia direcionada, fica ali como uma fumaça, um ar diferente e somos obrigados a respirá-lo.
Um ônibus, de repente, chegou – assassinou os pensamentos. Agora era apenas o instinto, pôr em prática o que sabia que tinha a fazer, afinal: articular as pernas e entrar no veículo. Não era seu ônibus, porém. Então ela assassinou o instinto, quando leu o letreiro do ônibus e impediu a si mesma de tomar a condução errada.

Olhou a calçada de cimento por alguns instantes, mas algo atraiu sua atenção: o olhar de uma mulher na janela do ônibus. Olhou nos olhos da senhora (já não era assim tão jovem, nem assim tão bela, nem assim tão arrumada), corajosa senhora: manteve o olhar. Há tão pouco tempo Arian condenou o erro de fugir do contato com o outro até mesmo no olhar, mas agora estava constrangida. Estava olhando nos olhos da senhora, que não tinha medo de fitar-lhe os olhos. Estava atônita – iria chorar? Não. Fez um esforço, portanto, levantou a cabeça, direcionou os olhos à senhora, mas não adiantou encará-la. Mantinha os olhos como correntes. Olhou a parede (isso era mesmo muita grosseria, eu fui mal-educada, fui infantil, fútil, não sei me defender sequer de um olhar) e ônibus foi embora.

Talvez tenha perdido a oportunidade de se aproximar de si mesma, de seu próprio medo, mas era um medo tão comum que já não parecia mesmo medo, era só um incômodo, um nada, um ônibus que passou. Uma história que eu vou esquecer de contar quando chegar à minha casa.

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quinta-feira, abril 09, 2009 

Amor de terra

Humildade é preciso: ensina-me a te amar. Você já viu meus erros, já conhece minhas vergonhas. Já conhece alguns dos meus segredos, inegavelmente. Você, contudo, parece cada vez mais palpável – eu quero aprender quem é você, o que quer, afinal de contas. E eu, quem eu me tornei, meu Deus? Aquilo que eu ainda tento descobrir o que é. E acabo concluindo coisas a meu respeito, para sentir-me um pouco mais segura. Quem é você é uma conclusão mais, segura, porém, porque tem a ver como o modo como me relaciono com você. Então espero que eu conclua paraísos de você. Eu espero tanto, tanto, tanto...

Mas meus erros também fazem de mim quem eu sou. Independentemente da existência ou inexistência da felicidade, no plano da verdade absoluta e além de quaisquer discussões, meus erros fazem parte do meu ser, não apenas do meu prazer. O erro é relativo a quem enxerga e não a quem comete: quem identifica o erro torna o erro existente, mesmo sem o ter cometido. Sou ainda mais única por isso. E mais imunda por isso também. Aliás, todo mundo tem um quintal sujo no fim da casa: quintais completamente limpos não quintais.

E da imundície, da podridão, do estrume, nascem das mais belas flores à exuberância amazônica, que seria apenas um grande nada no lado esquerdo, largo, do Brasil, sem a massa preta, constantemente renovada de matéria orgânica, oriunda da morte – as folhas, os bichos que têm o chão como primeiro e último destino – e tão cheia de vida.

Tão fértil quanto é o solo negro – que quanto mais negro mais fértil é – seja esse amor latente, que tenha ardor, mesmo em tamanha imundície que os olhos possam julgar. Que fértil seja, que nasça, e cresça, e roube toda a energia do sol e seja vivo, vívido, penetrante, até entrelaçar as almas e tornar-nos não apenas dependentes, mas cúmplices, que juntos, são ainda mais fortes.

Tão forte quanto é o seio da Terra, que tomem as raízes um rumo incerto, porém, profundo, quase sem fim, quase impossível de arrancar, feito restinga nas dunas, que mesmo móveis, não levam – porque não podem, não conseguem – não levam as raízes daquilo que, aparentemente, é assim, tão frágil. Que me prenda o teu seio tanto quanto à Terra pertence a vida.

Tive medo, muito medo, e confesso ainda temer a derrocada do meu mundo. Hoje sei que o grande perigo não é a queda de um império, mas a expansão. Mesmo que a expansão possa ser motivo da queda, é da expansão que falo. E é este mundo egoísta, trancado, que me habita – a água do mar bebe-me e em mim faz crescer um outro mundo – que eu tive medo de engolir o seu mundo que sempre julguei tão inocente. Entretanto, enquanto pus as mãos na sua alma vi não ser tão inocente: você também tem dúvidas, é tão humano quanto eu deveria imaginar. Mas ainda é santo – tem um mundo menos criminoso a esconder.

Agora eu sei que essa fusão sem precedentes não podemos evitar. E, oh! Que desastres hão de ocorrer? Talvez já tenham acontecido. Quem sabe já não passou o pior? A agulha já furou – eis a hora da cura. Cura, naturalmente como a água procura o sal até que dele já não possa mais ser separada. Mata-me de sede, portanto. Faz o sal criar vida em mim, vida que eu ainda estou, assombrada, conhecendo.

Editando:
Esse texto me faz lembrar "The Sensual World", da Kate Bush!
Postando...



Stepping out of the page into the sensual world.
Stepping out...

To where the water and the earth caress
And the down of a peach says mmh, yes,
Do I look for those millionaires
Like a Machiavellian girl would
When I could wear a sunset? mmh, yes,

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domingo, abril 05, 2009 

Mendigos


Uma corrosão lenta, uma ferrugem de maresia. Tão perto da vida do mar, tão perto do seu julgamento de morte. Certa, lenta, cruel, pela maresia. Come os metálicos sentimentos. No mar, há peixes a conviver mais uma de muitas cruéis cadeias alimentares. De uma outra espécie de cadeia participam os humanos sobre a Terra, apercebam-se disso ou não.

Mas ainda vivem, porque não querem morrer ou porque não têm coragem mesmo. Os mendigos, sem lar, sem ninguém e até sem solidão, com o hábito desse tipo de vida a acompanhá-los como um cúplice mais leal que qualquer humano - normalmente desaprovamos esse tipo de vida arrastada. Tal cúmplice encontra a fome, e a fome e o cúmplice são um só - um que os corrói, corrói-lhes o estômago e os olhos. Não vêem saída, não vêem nem sequer uma chance.

Uma mulher com TPM fica em casa, tenta escutar uma música que lhe agrade pra esquecer a solidão injustificável, que só a torna ainda mais ridícula. Acaba encontrando um cd que nunca mais escutou. Ou que nunca escutou direito. A solidão ainda a acusa, mas ela também encontrou seu cúmplice. E escuta, escuta, pede pra ter sono mas não tem. Não tem nem sequer coragem de tomar um sedativo (como leu em alguns livros), quiçá os próprios comprimidos. O dia demora a terminar, mas termina com uma linda lua cheia. Mas ela não vai lá fora compartilhar suas fases com a da lua - fica trancada em casa.

Um homem briga com a mulher pela quarta vez no dia e quer aliviar a mente, sai a andar pela rua sem rumo, acaba no cabeleireiro da esquina. Descobre que essa é a desculpa perfeita para sair repentinamente de casa. Ele esquece a raiva que sentiu porque esqueceu da mulher, e olha satisfeito pelo pequeno espelho que mostra como ficou o cabelo. Nossa, até na nuca ele cortou direitinho. Sorri. Sai, vai ao bar da outra esquina, mas só toma uma cerveja, não está doendo o cotovelo suficiente para encher a cara, faz tempo, tanto tempo que não encho a cara, pensa.

E eu acordo de manhã, achando ruim que acabaram os primeiros dois segundos em que a inconsciência me abençoa com um pouco de tranquilidade, livrando-me de mim mesma, minha miserável condição mendiga, a sempre querer mais.

Imagem: Deviantart; kartxila

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sábado, abril 04, 2009 

Salgado e poluído


Rio Jaguaribe, século XVII. Começam os primeiros povoamentos no interior do Ceará, motivados pela pecuária, abastecidos pelo leito do rio. Até o século XVIII, muita coisa mudaria naquela região e muita História para o Ceará passa-se ali. Até que a pecuária deixa de ser grande coisa e atenção é voltada para o litoral.

A impressão que dá é que, de lá pra cá, o Rio Jaguaribe e o Rio Salgado viveram muito abandono. Parece que nao é tão errada assim essa impresão.

A maioria dos municípios localizados nas margens dos rios Salgado e Jaguaribe não tem sistema de saneamento básico. Os dejetos são jogados diretamente no leito dessas duas bacias hidrográficas.
[...]
São 23 municípios que estão nas margens desses dois rios.

O Ceará tem áreas claramente mais povoadas e desenvolvidas, como se pode observar no mapa acima. As áreas onde os municípios estão mais concentrados localizam-se no nordeste, sudeste e norte do estado. A nordeste está o Rio Jaguaribe, o maior rio totalmente cearense (clique para ampliar).

Se esta é uma das áreas mais povoadas de nosso estado e não tem sequer saneamento básico, como está o resto, céus?! É óbvio o absurdo; o Rio Jaguaribe sustenta não só a História, mas a vida de muitas pessoas ainda hoje.

Só recentemente foi discutida a questão, num teatro no Município de Icó. Estratégias foram expostas sobre como administrar a manutenção dos recursos hídricos da região, bem como solucionar o problema do esgoto. A agressão é preocupante porque agride gravemente o meio ambiente, atingindo, consequentemente, à população abastecida pelo rio. E, pior ainda, os rios Salgado e Jaguaribe, atingidos por tamanha poluição, estarão inclusos no projeto da transposição das águas do Rio São Francisco, podendo causar enormes prejuízos.

O quadro de poluição é elevado e esses dois reservatórios vão receber as águas da transposição do Rio São Francisco.
Deputado Neto Nunes, presidente da Comissão de Agropecuária e Recursos Hídricos

Veja a repotagem no Diário do Nordeste: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=627817

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sexta-feira, abril 03, 2009 

Lixo

Eram leves os passos, ironicamente, era como pisar no céu. Mas o céu não seria motivo de vergonha. Com uma sacola na mão, uma leg azul, um camisão de uma publicidade qualquer, olhava como se esperasse que alguém a visse. Não esperava. Não queria ser vista, mas por isso mesmo achava que sempre atraía olhares. De ojeriza e, às vezes, até de curiosidade. Os poucos carros que rugiam na larga avenida a faziam mais invisível do que imaginava – momento perfeito, é agora.

Pisava cada passo como se ainda tivesse direito de ter algum nojo, como se fosse a primeira vez: não era. Sua sombra se projetava na calçada suja e ainda a culpava; sabia que aquilo era imundo, mas não tinha escolha. A sombra mudava de direção como se uma parte dela a quisesse culpar por aquilo, virando para um lado e outro procurando a face para olhar-lhe nos olhos e vomitar-lhe uma forte e calada acusação.

Mais dois passos e... já estava no meio, agora já é tarde, teve que começar o trabalho sujo; a fome, como um demônio, a forçava a tal e parecia rir de tamanha humilhação. Encurvou-se enfim. Tocou. Cheirou por obrigação, mas o costume agia como um vírus que o corpo já conhece: penetra-lhe o corpo, mas já pouco lhe importa. O lixo estendia-se por toda a esquina, a rua larga, isolada, a desembocar na avenida. Mas na avenida não tinha lixo: os carros o haveriam carregado, esmagado, estraçalhado, sem se aperceber. Carros, afinal, não sentem.

Pôs uma embalagem com restos praticamente putrefatos nas mãos. Não estavam de todo podres, e isso a animou. Hoje as coisas estavam melhores. Tinha carne numa manteigueira. Tinha biscoitos. Tinham muitas moscas com quem disputar, mas sou infinitamente maior que elas, então não tenho problema, exceto o zunir ininterrupto. E foi juntando uma, duas, três, quatro embalagens na sacola. Consumado – já não enxergava mais que estava numa rua, parecia estar no nada, catando frutas encantadas. Ou num supermercado, escolhendo frutas em promoção.

Pensou que ao menos não tinha filhos, e não precisaria, portando, dividir o pouco que conseguira aquela tarde, apesar de que foi melhor que outras vezes. Sou muito exigente. Teria pego mais, lá havia mais para pegar, mas eu não peguei. Pus só isso na sacola. E olhou para a imensidão: muito lixo na esquina. Não pensava nada, só via o lixo. E o sol de duas horas da tarde sentia queimar-lhe a pele também. Mas já não se importava, nego é forte, diria. Quis pegar mais, mas, subitamente, o nojo não lhe permitiu: é hora de comer, dormir e esquecer que espécie de bicho sou eu.

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quinta-feira, abril 02, 2009 

Femme Fatale

O homem tem medo de quê?

A humanidade tem muitos medos. Medo do inferno, medo da gordura trans, medo da barriga de chopp, do assalto na esquina, de carão do patrão.

Mas ELES têm medo mesmo é da patroa.

Vez por outra, ainda escuto uma música que fala sobre o "poder feminino", assim, como se fosse uma espécie de "Intentona Feminina", um comando, um grupo de guerrilha, sabe? Isso não é estranho? De Sonic Youth (Kool thing) a Velvet Underground (Femme fatale).

Que tipo de mulher nós criamos?

yeah, tell'em about it,
hit'em where it hurts
hey, Kool Thing, come here, sit down
there's something I got to ask you.
I just wanna know, what are you gonna do for me?
I mean, are you gonna liberate us girls
from male white corporate oppression?
tell it like it is!

[...]
fear of a female planet?
fear of a female planet?
fear, baby!

Kool thing - Sonic Youth

Ao menos já não estamos mais presas aos fogões, aos tanques de roupas.
Só que pouco resta de magia a algumas mulheres, enquanto sobra o estresse que o mundo masculino nos ensinou a adquirir, porque nem eles mesmos sabem que papel têm hoje.
Quase ninguém sabe.
E se a revolução que fizemos foi apenas adquirir vícios masculinos e usar calças, não fizemos grande coisa.


imagem: Deviantart; VioLynn

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