domingo, agosto 26, 2007 

"Nova" novela

Como protagonistas, o óbvio e o ridículo contracenam em toda boa novela na política. Cada capítulo contém desculpas esfarrapadas, mocinhos e bandidos de fantasias transparentes. Não perca! Você já viu muitas novelas, talvez, mas esta é inédita! Confira na hora do JN, tem a melhor cobertura: sempre mostra as tramas mais acirradas, com mais suspense que qualquer outra transmissão (porque começa a narrar a trama e quando está quase resolvido, aparece algum evento pra fazer você esquecer tudo, aumentando o suspense). E caso você perca algum capítulo, pode conferi-lo na imprensa online ou na banca mais próxima de casa! Acompanhe cada episódio e sinta a emoção de ser mais um brasileiro revoltado!

Escrito após ler uma série de reportagens sobre o quase infinito e mal resolvido caso Renan, mais uma história mal contada.

quinta-feira, agosto 09, 2007 

Sobre o nada.

Mesmo o absoluto, o nada e o infinito: tudo junto dá um monte de nada. Nada porque que, de tão abrangente, é impossível visualizar nada disso de modo exato, restando-nos apenas uma admiração pela grandiosidade da idéia; o resto é vazio. Somos vagos ao imaginar o que, de tão grande (ou de tão pequeno), chega a ser adimensional. Imagine infinitas galáxias, a eternidade de um sentimento, o tamanho de um quark, ou mesmo o tamanho do aracnídeo dos seus cravos. Sabemos apenas teoricamente que são “muito grandes” ou “muito pequenos” e nada mais.

Vendo sob essa ótica, não fica tão absurda a idéia de filosofar sobre o nada, narrar o nada, desvendar o nada, analisar o nada, criticar o nada. Como Clarice Lispector, que fez da vaga, ingênua, passageira vida uma estrela. Destaque para o momento de alegria cega... Até o carro que lhe matara era um objeto do processo de sua mudança de vida iminente. Nunca havia experimentado o sabor da euforia da felicidade, e na gula, na sedução do sabor, perdeu o senso e a psicodelia a matou. Em A hora da estrela (1977), Clarice Lispector narra o nada. Macabéa não tinha sentido na vida, e achava que o ter era luxo; então nem tentava achar o tal sentido. Levava a vida, ou melhor, a empurrava continuamente como quem se contenta com tudo, sem sequer uma boa lembrança pra motivo de revolta. Nada. A vida era o nada. E morre no único momento de “alguma coisa”.

Na verdade, a massa dessa gente é feita de gente que não almeja lá muita coisa. Nasce daquele jeito, e aprende que não há nada mais. E que não se deve procurar nada mais, porque já disseram que não tem e pronto. É assim porque é, diria Macabéa.

As informações recortadas (e os poucos recortes eram picotados e mal pintados) serviam como fiapos de curiosidade, momentos de deslize, como um atrevimento, davam alguma graça a todo aquele monte de nada.

Falar sobre nada é tão bom quando é Clarice Lispector quem fala...


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