terça-feira, março 25, 2008 

Verdade de vidro fumê


O que é poesia se não palavras?

Palavras evocadas de algum lugar distante, o suficiente para que se diferenciem das palavras comuns. São cartas de tarot frente ao baralho do velho bar da esquina.

Talvez os modeladores da palavra poética sejam os reais detentores da verdade. Enxergam o mundo e seus elementos em sua real complexidade, usando, muitas vezes, de adjetivos superficiais, porém, intensos, enevoados, mas surrealmente realísticos. A verdade que o poeta enxerga é um universo mais completo.

Quando os poetas atribuem milhares de adjetivos a um ser, caracterizando-os até com atributos emocionais próprios e comuns, dizem muito mais da realidade que uma breve definição científica. E quem disse que a ciência não é poesia? Só se você não quiser que o seja.

A poesia faz o poeta, atrai a quem aceita, modela quem aceita a modelar. O homem persiste em desenhar, escrever, atribuir caracteres, não apenas na busca da comunicação entre seus semelhantes, mas na vontade de exprimir suas impressões, seus anseios, suas verdades.

Daí é fácil entender porque nenhum dicionário consegue descrever um sentimento melhor do que quem sente. Este, não raro não consegue definir ao certo, mas sabe descrever detalhadamente, sabe dizer o que sente, afinal, com toda a carga da palavra, da expressão. O dicionário não sente, reduz as palavras à morte, reduz as palavras a meros capsídeos vazios, que só são preenchidos quando o comunicante as enriquece por um contexto.

Que tal a poesia?

sábado, março 22, 2008 

Vida de interior

Numa viagem a um pacato interior... Que, dizem, já não é tão pacato assim. A violência, a imprudência, a perca dos valores éticos, mesmo que tradicionais já não deixam mais lugar nenhum ser pacato.

Mas era tudo muito verde. Tirávamos uma foto com os amigos e o fundo era verde. Tirar uma foto do pessoal do lugar. Tudo era verde atrás. Tiramos uma foto da paisagem local: verde total! Pertinho de Baturité, Itapiúna é um dos muitos cantinhos do Ceará. Uma só lan house, um só restaurante e muitas mercearias compõem boa parte do comércio da região.

Ainda é possível encontrar, em muitas casas, os tradicionais retratos pintados de pai e mãe anexados às paredes verdes ou brancas. Mais uma vez, verde. Uma casinha aqui, outra acolá. Mas bem acolá mesmo. Andamos, andamos, e andamos, e eu com minha saia rodada, sentia falta apenas das trouxas na cabeça para ser um perfeito modelo de retirante para Portinari. E era quente. Muito quente. Parecia que andávamos sobre uma chapa de hambúrgueres do Mc Donald’s.

E uma das melhores partes, a conversa com o pessoal de lá. Os anciãos eram os mais cômicos, mais receptivos e mais interessantes. Não raro faziam a gente ficar pelo menos uma hora conversando. Contavam as histórias do que aconteceu na cidade e até em Fortaleza, enquanto estiveram aqui. Ofereciam café, banho, almoço, quase moradia também.

Enquanto o ônibus partia, traçando um trajeto “exo-Fortaleza”, minha liberdade aumentava. Uma alegria, quase calor, fazia meu ânimo ficar agitado, e eu tinha sorrisos mais espontâneos que o normal. Ouvir as histórias que o povo conta, ver as pessoas caminhar bastante pra ir à casa de um tio ou amigo (etc), as velhas casas de fundo verde ou branco provocam uma nostalgia não se sabe de quê. Será que o interior é algum resgate de si mesmo?

Obviamente, hoje sei que não me acostumaria tão fácil a viver num lugar desses, digamos...
Mas será sempre um prazer resgatar baldes d’água e tomar um bom banho e refrescar.

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