quinta-feira, maio 31, 2007 

Doente

Um milhão de fluxos passavam-se sem parar. Uns batiam nos outros, e era impossível entender quem era quem, para onde iam ou, muito menos, fazer o quê. Assim estavam fluindo os pensamentos de sua cabeça; longe de fazerem parte de um fluxo contínuo e suave, eram correntes inesgotáveis na velocidade de rios desesperadamente ansiosos para chegar ao mar. O mais incrível era conseguir concentrar dentro de si mesma tantas, mas tantas coisas diferentes. Previsível, claro, era a conseqüência. As coisas básicas: quem era, onde morava, o que fazia, quem amava, costumeiramente se perdiam, e achar era uma batalha.

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Era jovem, tinha dezesseis anos e achava que estava longe do auge da vida. Quando pensava em sua própria idade, pensava que aquele era apenas um degrau, algo pelo qual inevitavelmente haveria de passar, por mais que isso fosse contra sua vontade. Samanta não raro era admirada pela maturidade e pela freqüente precocidade até na menstruação. Isso lhe parecia muito bom, mas era muito ruim se dar conta de que ainda não era adulta. Umas poucas vezes, lembrava de como gostava de ser menina, de como a meninice fazia-lhe bem e compunha sua personalidade de aprendiz incansável.
O problema era a confusão.

Acidentes constantes, feitos de batidas de frente de pensamentos. Coisas totalmente opostas faziam parte da mesma cabeça, e tinha mania de separar emocional de racional. Por tantos anos aprendeu tudo que sabia, e, no fim, não parecia saber absolutamente nada. Esse pensamento a matava por dentro, a leves picadas, a cada aparição.

Conhecer gente nova era seu remédio de tarja preta: curava-lhe como nada mais. Entretanto, só causava mais confusão ainda. Não sabia ao certo o que, a quem ou até onde amava. Era tudo amplo demais, e decidir sempre foi um problema; contudo, sabia que o era para qualquer um, e isto a consolava.

Observar o cotidiano das pessoas era um remédio natural, um chá: nem sempre era lá tão doce, mas curava sem efeitos colaterais. De vez em quando, percorria as ruas cantarolando alguma música, ouvindo atentamente os cortes de voz que era possível ouvir, e sorria sozinha. Sentava na cadeira próxima à janela do ônibus e pensava em quão únicas eram as pessoas e os momentos: aquilo nunca mais se repetiria, e, dificilmente, alguma daquelas faces que havia visto seriam reconhecidas ou, sequer, revistas.

Cheia de remédios, não se curava nunca, porque viver é uma doença. Até que se morra. No fim das contas, todos estamos doentes, não estamos livres da dor. Até que a vida se vá de uma vez por todas. Mas estar doente não é tão ruim! Afinal, ainda temos a vida. É bom pensar assim e se cuidar pra durar mais. Todo mundo pensa estar tão bem, e estamos sempre com problemas de sobra... É bom se conscientizar dos próprios problemas, pra ver se a gente enxerga a realidade e trata de fazer alguma coisa a respeito pra ver se, então, a vida dura mais: quer a nossa, quer a dos outros, quer dos animais, quer das plantas, quer do planeta inteiro.

segunda-feira, maio 14, 2007 

Autonomia

Já postei algumas vezes por aqui teorias de que o homem fica cada vez mais parecido com as máquinas que ele mesmo cria. Na verdade, parece que máquinas são criadas como esteriótipos da perfeição; só pode ser. E não é que eu ande lendo ou assistindo a ficção científica demais. Na verdade, eu só estou freqüentando regularmente às minhas aulas de Genética na escola.

Minha professora costuma dizer que tudo é Genética: cor da pele, cor do cabelo, até inteligência e personalidade. Mas isso gera uma questão interessante: somos realmente autônomos? Ou somos predestinados por nossos próprios genes?

Ultimamente, homossexualismo, agressividade, entre outras manifestações comportamentais têm sido "explicadas" pela genética. Aliás, minha professora veio me dizer que os homens têm um gene que lhes dá a tendência a trair. Incrível, não? Tenho certeza que ninguém gostaria de perder sua liberdade de decisão, de reação, de expressão. Ora, bolas, todo mundo quer privacidade e autonomia, compreensivelmente. Sem definir respostas, fica apenas a pergunta: até que ponto somos realmente autônomos? Ou melhor: até que ponto protegemos nossa autonomia?

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Futuramente (nem tão futuro assim...) será possível fazer nascer a criança do jeitinho que os pais quiserem (olhos azuis, cabelo liso, etc). Será possível desvendar cada característica registrada em nossos genes; até mesmo pré-definí-las. Mas onde fica a liberdade nessa conversa toda? Onde está a liberdade do novo ser? Cada vez mais a ciência desconsidera o embrião... É preciso, porém, pensar que cada embriãozinho minúsculo é uma vida e merece liberdade tanto quanto cada um de nós.

É preciso dar valor à vida.
Já bastam canhões disparando do outro lado do mundo, canhões disparando idiotisses na cabeça das pessoas, fazendo delas seres vendados... Já bastam tantas vozes ridicularizando quem ainda quer juntar todo mundo e fazer alguma coisa boa por todo mundo.
Valorize sua autonomia, guarde o direito de ser quem você quiser, e aproveite pra valorizar a autonomia alheia. É velho o ditado, mas vale lembrar: seu direito termina no direito do outro.

quinta-feira, maio 10, 2007 

Harmonia

Gosto de pensar em harmonia.

Muitas vezes chego à conclusão de que, no fim das contas, todos nós estamos inter-relacionados. Concordo que somos seres relativamente independentes, pois não dependemos completamente uns dos outros (o que nem mesmo seria saudável), mas somos seres sociais; precisamos nos relacionar, como uma espécie de simbiose.

E não se trata apenas de fortes relacionamentos. Ver um monte de gente pra lá e pra cá enquanto se anda pelas ruas pode parecer muito corriqueiro (especialmente nesse nosso dia-a-dia cada vez mais acelerado), mas precisamos estar em contato com gente. Ver gente, sentir gente, ouvir gente...

E não é só gente!
Líquidos, gases, minerais entre outros sólidos, plasmas, animais, plantas, ser vivo de tudo quanto é reino: todos eles estão relacionados a nós. Essa inter-relação deveria ser sinônimo de harmonia. Mas, infelizmente, como é do conhecimento de todos, seres humanos têm quebrado essa harmonia. E quão triste isso é...

Paramos de comemorar as colheitas, de admirar o ar que respiramos, o dia mais longo do ano, a noite mais longa do ano, as fases da lua, e assim já não mais vemos a grandiosidade invencível que a natureza tem em comparação a nós, meros humanos. Esquecemos que a Terra não precisa de nós, e sim o contrário. E no meio de tanta inerência (que acaba sendo um desrespeito a nós mesmos e a tudo aquilo que nos cerca e sustenta), restou um vazio dentro do ser humano...

Agora a gente vê um monte de gente assustada quando assiste na TV notícias sobre aquecimento global, guerras sucessivamente sem explicação em pleno séc XXI... Não há muito que se admirar. Nós pedimos isso e a Terra atendeu. Ninguém pensou nela, a empurramos pro lugar mais perigoso de um penhasco e agora ela não pode fazer nada mais que se virar e empurrar a gente. Como já dito, nós sim precisamos dela. E que ela fique. Que perdure por um longo tempo...

Quanto a nós, o máximo que posso desejar, é, infelizmente, uma redundância ao individualismo: que cada um faça a sua parte. Harmonia não é coisa de viajante: é coisa de quem sabe viver.

Come join with us in our rune tonight
And feel the circle spin
Let your spirit soar in the lunar light

Wytches - Inkubus Sukkubus



Quão inerte é você?
Note o vídeo acima; Hurt do Nine Inch Nails.
I hurt myself today
to see if i still feel
i focus on the pain
the only thing that's real
[...]
What have i become?
My sweetest friend
Everyone i know
Goes away in the end


Note os animais morrendo. As sepulturas. Os soldados. Essa é a "paisagem" com a qual nos acostumamos...

terça-feira, maio 08, 2007 

"Sou mais eu"

É do conhecimento de todos a importância da auto-estima para a felicidade. Todos nós precisamos de uma medida de amor próprio; afinal, a felicidade está diretamente ligada à satisfação (inclusive consigo mesmo). Valorizar-se, é, portanto, essencial.
Mas até que ponto isso é realmente saudável? Tornaram-se comuns (e, de tão comuns, viraram clichês) frases como “sou mais eu”, “se gostou de mim, ótimo, caso contrário, eu não me importo”, “primeiro eu, depois eu, terceiro, eu de novo”, especialmente como mensagens nos MSN e outros instant messengers, tão populares atualmente.

Primeiro é bom pensar o que tais dizeres indicam sobre as pessoas que os criam ou que simplesmente os copiam ou os reproduzem por acharem que essa é a conduta certa. Será que idéias como essas não indicam evidências de egoísmo? E não é disso que tanto reclamamos? Ao assistirmos aos noticiários na TV, ou ao comentarmos fatos horrendos ocorridos, falamos de pessoas que não demonstraram interesse nos outros: mas apenas a seus próprios interesses ou vontades. O sistema capitalista tem incentivado as pessoas ao individualismo, a importarem-se apenas com o benefício pessoal; princípio que tem provocado diversos comportamentos que deságuam em pura desunião.

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Além disso, esse egoísmo pode ser uma máscara para uma questão antagônica: a baixa auto-estima. O fato de que alguém persiste em reafirmar suas habilidades, qualidades ou dotes físicos pode indicar a necessidade que esse alguém tem de ser reconhecido. É como se a reafirmação de seu ego fosse uma tentativa de controlar a insegurança em ser notado pelas outras pessoas.

Portanto, ao expressar seu comportamento, é bom ficar atento: o que você diz ou que você defende pode dizer muito sobre sua pessoa. E você não gostaria de ser conhecido como egoísta, certo? Escolha um ponto de equilíbrio: imponha respeito deixando que as pessoas o conheçam e notem o que você tem de bom; isso ficará evidente, com o tempo. Respeite-se, mas não esqueça de respeitar os outros, que como você, também querem e merecem respeito e consideração.

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