tag:blogger.com,1999:blog-225048502024-03-13T13:09:56.447-03:00100 Maneiras de FugirPorque a vida é bela... E não se pode fugir dela!Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.comBlogger126125tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-78177284732228340902011-06-06T13:36:00.003-03:002011-06-06T13:48:16.723-03:00Clara<div style="text-align: center;">I<br /></div><br />Grito, semente de Deus. Vivo como água, inorgânico, porém. Liberdade, prisão do espírito. Correr num campo aberto, cair em qualquer lugar, porque qualquer lugar é sem fim, é bebida que não acaba, é a morte da sede, é futuro: é ogrito com pés feito centopéia e pernas de veado. Permites, Deus? Tanta fome comida... Veloz, voraz, assusta o fim e foge como fogo: intenso parasita em movimento na floresta que chora fumaça. Ah, seiva da vida era Clara, era tudo que queria ser. Clara abriu a janela ao acordar e respirou, soberba, o dia que ninguém ainda viveu. Viu o sol, olhou-o nos olhos e enxergou-o ainda mais: era a primeira violação do dia, toda violação era ela. Alguém ligava, ela mal olhava o telefone, estou tomando café: mamão e bolacha. E leite feito de seis colheres de leite em pó em metade de um copo de água. Tinha que ser leite grosso, firme, <span style="font-style: italic;">self confident</span>, decidido.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-30267621929922526442011-06-02T21:12:00.001-03:002011-06-02T21:12:50.017-03:00Consultório<p class="MsoNormal" align="left" style="margin:0cm;margin-bottom:.0001pt; text-align:left;text-indent:35.4pt;line-height:150%">A história tem que começar assim: era segunda, nove horas da manhã, não em ponto porque o relógio atrasou. Camila estava toda gorda de alma, tonta de felicidade, os olhos castanhos azuis de alegria. Ia ao médico com a tia, quer era meio tímida, mas era adulta, dizem. Naquele momento, toda arrumada e cheirando a loja de perfume, Camila estava extasiadamente faltando aula aos dezoito anos - para ir ao médico, poderia dizer, orgulhosa, a quem o quisesse saber.</p> <p class="MsoNormal" align="left" style="margin:0cm;margin-bottom:.0001pt; text-align:left;text-indent:35.4pt;line-height:150%">Entrou na clínica, cheiro de álcool por todo canto, era sufocante. A felicidade, doce como café, engana. Aguardava num misto de ansiedade de não-sei-o-quê com medo e dúvida: por quê? A consulta, marcada há três meses, já tinha se perdido no tempo, deixado apenas rastros arenosos na lembrança de sua própria razão de ser. Como a própria Camila. Sem que nada seja nato, próprio: apenas o é, Camila pensaria, pois, pelo menos até então não pensava muito.</p> <p class="MsoNormal" align="left" style="margin:0cm;margin-bottom:.0001pt; text-align:left;text-indent:35.4pt;line-height:150%">Pensamento perdido, sentada na cama do consultório - já. Olhos fixos na brancura. Jaleco, parede, papel, pele. Sim, a pele do médico era branca, e apesar de o hospital ter seus pedaços à mostra, Camila enxergava um clarão dissipado em cor branca: parecia misericórdia aos olhos para que estes pudessem tocar em volta. Mas o cabelo - ah, o cabelo era preto. Preto e liso como crina de cavalo. Havia nele um quê de leveza, que Camila mal saberia descrever, além de dizer que ele era bonito assim como o era. A tia no canto da sala, esperando humilde como táxi pago.</p> <p class="MsoNormal" align="left" style="margin:0cm;margin-bottom:.0001pt; text-align:left;text-indent:35.4pt;line-height:150%">Camila, porém, não o ouvia. Sentiu-o levantar seus braços. Podia ler em seus lábios (ou completar-lhe a fala com devaneios - perdida?) dizer: “respire” e estendendo um leve toque deslizar até sua mão ele lhe abaixou os braços e pôs-lhe o estetoscópio no seio, nas costas, repetindo o mesmo comando. </p> <p class="MsoNormal" align="left" style="margin:0cm;margin-bottom:.0001pt; text-align:left;text-indent:35.4pt;line-height:150%">Silêncio,</p> <p class="MsoNormal" align="left" style="margin:0cm;margin-bottom:.0001pt; text-align:left;text-indent:35.4pt;line-height:150%">o médico a deixou no abismo do silêncio. Nem tempo, nem espaço, nem o branco existia, apenas nada. Existência questionável, lembranças distantes apagadas ou embaçadas. O médico lhe toca o queixo e a liberta. E prende-a novamente: puxa-lhe o queixo e beija Camila levemente nos lábios. Violada: sua felicidade havia sido banhada em veneno, rasgada aos pedaços, e já não era mais felicidade, era trapos, era excitação, vergonha, orgulho, medo, solidão: a tia perdida e fragmentada, dissolvida no ar. </p> <p class="MsoNormal" align="left" style="margin:0cm;margin-bottom:.0001pt; text-align:left;text-indent:35.4pt;line-height:150%">E agora Camila tinha uma vitóriazinha escondida numa caixinha no peito: não podia aceitar que alguém permitira isso, o beijo, meu Deus, o beijo, os lábios doces de uma beleza desconhecida, enquadrada em pele branca e cabelos pretos lisos de um homem qualquer. Restou<span style="mso-spacerun:yes"> </span>a chama, ninguém havia jamais atraído essa pequena (ou grande ousadia), assim como ninguém que ela soubesse havia silenciosamente permitido a violação moral: médico beija paciente em consultório. Assim a vitória cresceu, a caixinha não coube mais tanta excitação.</p> <p class="MsoNormal" align="left" style="margin:0cm;margin-bottom:.0001pt; text-align:left;text-indent:35.4pt;line-height:150%">Impaciente, Camila mexeu-se na cama, perdeu a tia, o lugar e voltou para casa depois de uma noite incomum, pois há tempos não sonhara. E guardou o sonho com o prazer de quem guarda um segredo sem contar pra ninguém: para que ele exploda e transborde e flua vez após vez dentro de si mesma, dando-lhe longa vida, até ter pontas brancas e morrer.</p>Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-29197580252458413602011-04-12T16:01:00.002-03:002011-04-12T16:03:57.303-03:00Walt WhitmanFirst part of <span style="font-style: italic;">Song of Myself</span>, from Walt Whitman<br /><br /><span style="font-style: italic;">I celebrate myself, and sing myself, </span><br /><span style="font-style: italic;">And what I assume you shall assume, </span><br /><span style="font-style: italic;">For every atom belonging to me as good belongs to you. </span><br /> <br /><span style="font-style: italic;">I loafe and invite my soul, </span><br /><span style="font-style: italic;">I lean and loafe at my ease observing a spear of summer grass. </span><br /> <br /><span style="font-style: italic;">My tongue, every atom of my blood, form'd from this soil, this air, </span><br /><span style="font-style: italic;">Born here of parents born here from parents the same, and their </span><br /><span style="font-style: italic;">parents the same, </span><br /><span style="font-style: italic;">I, now thirty-seven years old in perfect health begin, </span><br /><span style="font-style: italic;">Hoping to cease not till death. </span><br /> <br /><span style="font-style: italic;">Creeds and schools in abeyance, </span><br /><span style="font-style: italic;">Retiring back a while sufficed at what they are, but never forgotten, </span><br /><span style="font-style: italic;">I harbor for good or bad, I permit to speak at every hazard, </span><br /><span style="font-style: italic;">Nature without check with original energy. </span><br /><br />Esse poema tem a capacidade de tirar meu pé do chão! Celebrar a si mesmo não num ato de egoísmo, mas numa apreciação de si mesmo, do privilégio de respirar, de ser feito do solo e ser feliz por isso. Lindo!Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-341183521341704802011-04-12T15:53:00.000-03:002011-04-12T15:54:04.977-03:00Rainy day for conscienceToday is a rainy day, again. The sun is nothing but light and heat, not even the rainbow's been flourishin' these days. Just go home, says my heart. I'd like to stay home, just to be in my safe shell, smelling only the purests smellings I already know for a long time. But the world is expansion, is a constant overflow, even when it leads towards the unknown, the not so safe places, not so warm lands. Pure is ideal, imagination, no contact, what somehow people have been longing to for years. Just want to go down into knowledge, overcome myself: that's my ambitious wish and my pleasure, my fun in my free time. No water surrounding me because everything is water, so water doesn't exist, it just is. In fact, for my surprise, I'm writing! For my need flowers of criativity grow: and that's the danger, God! I swear don't want to discover it, except for a minute: this and uncountable others. The full glass of extreme energy those who tasted it died for one, two or for all worlds. Although, somehow, all of us may touch, make thin the thick veil that separates the prohibited places behind conscience (that's what they call it).Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-2239672481149494622011-03-14T10:42:00.003-03:002011-03-14T10:52:10.902-03:00Japão<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/-wzi_QEnlBc8/TX4cn7OSGBI/AAAAAAAAAHk/bABiiRjrmeA/s1600/13japan-quake-511-custom5.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 196px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-wzi_QEnlBc8/TX4cn7OSGBI/AAAAAAAAAHk/bABiiRjrmeA/s400/13japan-quake-511-custom5.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5583932060224067602" border="0" /></a><br />O céu intacto, a terra em pedaços, forças superiores em descontrole, resistência humana. Momentos de dor, choque, incredulidade. O Japão tem mais um momento histórico do qual se levantar. Tem uma história já cheia de tragédias, mesmo antes da 2ª guerra, como quase toda nação. Poucos países, no entanto, reegueram-se como o Japão. E isso há de acontecer uma vez mais: levantar, mesmo com pés e pernas doloridos.<br /><br />Esses dias mesmo mostrei umas cenas pros meus alunos mas eu mesma tinha o coração doído. Vi no New York Times fotos chocantes, como esta acima. Que Deus ajude o Japão, mas especialmente os japoneses, a ter forças pra seguir em frente mesmo perdendo casas, amigos, família, porque sozinho é impossível superar tamanha dor.<br /><br />Nessa foto, o corpo é objeto central da atenção, todos os os outros são dependentes dele na construção do significado: da dor. O vetor do olhar para o corpo vem de rostos impressionados, olhares doloridos, chocados. Acho que todos hesitaram em tocá-lo para depois recolhê-lo.<br /><br />Ainda houve uma segunda explosão na usina nuclear, e, apesar de que o pior já passou (ou não) ainda permeia o medo da descoberta: contaminação radioativa; um parente, um amigo a menos. God help Japan!Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-43094328517408281252011-03-03T09:56:00.004-03:002011-03-03T10:12:43.505-03:00Não Matarás: não ficarás calado!<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/-rWin_wZS89g/TW-TwZuz0NI/AAAAAAAAAHc/xuKp7b4h1ew/s1600/nao_mataras_foto.gif"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 282px; height: 400px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-rWin_wZS89g/TW-TwZuz0NI/AAAAAAAAAHc/xuKp7b4h1ew/s400/nao_mataras_foto.gif" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5579840923085557970" border="0" /></a><br />Gente, ontem eu assisti a esse documentário, produzido pelo instituto Nina Rosa e fiquei chocada com as cenas que vi. Vivissecção em pleno século XXI... Quem passou (ou passa) pela universidade, sabe como funciona: os alunos são levados a tolerar práticas antipedagógicas e até cruéis por causa dos professores cristalizados na tradição, independentemente de suas consequências. Quantas vezes a gente já não engoliu muito abuso por causa de professor "durão"?<br /><br />Os alunos são seres humanos independentes, portanto, têm direito de expressar sua opinião de modo respeitoso, mas não menos firme. Sabe o que acontece? Se os alunos não se juntam e mostram sua opinião contrária, vai ser sempre assim, e o sofrimento não é perpetuado: nos animais, nos próximos alunos, nos pacientes e nos próprios professores, que permanecem limitados à tradição.<br /><br />Achei muito corajoso da parte dos alunos do documentário (bem como de professores) expressar sua opinião clara contra o abuso de poder: dos professores e do ser humano. Só porque o homem detém os instrumentos que permitem que a dominação de animais (ratos, coelhos, cachorros usados para vivissecção) isso não dá a ele o direito de usá-lo de modo violento ou cruel e a própria lei no Brasil concorda com isso. Seria o mesmo que dizer que não há nada demais em roubar, desde que haja oportunidade para isso.<br /><br />Mais do que nunca defendo a postura ativa do aluno na Universidade, de modo que o mesmo possa usar os instrumentos disponíveis para promover não só o conhecimento científico, mas a ética, e que ele nunca fique calado com medo de ser reprovado.<br /><br />Assistam esse documentário! Essa é uma dura realidade, que muitas pessoas ignoram quando compram frango assado, mas todos nós sabemos disso e simplesmente não podemos fechar os olhos para não ver a verdade. Não adianta tampar os ouvidos para não ouvir os gritos de quem tenta escapar duma morte cruel mesmo depois de uma vida miserável no confinamento: vai ser assim enquanto assim aceitarmos que seja.<br /><br /><img src="file:///C:/DOCUME%7E1/CSAR%7E1/CONFIG%7E1/Temp/moz-screenshot.png" alt="" />Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-80599662330659422872010-10-18T21:12:00.002-03:002010-10-18T21:26:53.000-03:00Violência contra a mulher: 50 Boletins são registrados por dia em FortalezaÉ assim que começa a manchete da versão online do jornal <span style="font-style:italic;">Diário do Nordeste</span> aqui em Fortaleza. Fico pensando em como isso tudo deve acontecer. Os números são intensificadores de fatos que são individualmente dolorosos. É fato que as famílias mal estruturadas e o círculo social em muito influem em quem serão os parceiros de cada uma dessas mulheres. Mas já se foi o tempo em que se ficava escondido atrás da hipocrisia determinista. Além disso, é uma vergonha inegável: o respeito pelo mínimo pelo corpo da mulher ainda não é um valor amplamente difundido.<br /><br />O fator cultural às vezes tem sido usado como desculpa para justificar abusos e atentados à mulher (seu corpo e sua dignidade moral e psicológica). Seja o Islã, culturas tribais ou mesmo o machismo nordestino. A cultura é registro da identidade de um povo, patrimônio histórico. Entretanto, observamos calados o uso de vícios sociais como instrumentos de manutenção do poder, poder opressivo e destrutivo.<br /><br />Uma mulher não pode ficar nem calada nem cega. É preciso estar atenta. Se o namorado tende a quebrar as coisas durante uma briga é o suficiente pra que haja, no mínimo uma reavaliação dos valores de ambos. Não se pode dormir no ponto.<br /><br />Fico com o coração ainda mais apertado quando penso nos abusos cometidos contra a mulher no interior daqui do Ceará e de outros estados nordestinos, onde o acesso a delegacias é significativamente mais difícil que na capital.<br /><br />Deus tome de conta... E que mulher nenhuma se submeta a tamanha humilhação!Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-18536315014408808612010-10-15T17:06:00.003-03:002010-10-15T17:40:23.741-03:00Literatura de denúnciaLembro com carinho das vezes que lia Agatha Christie deitada numa rede da varanda, depois do almoço, me retorcendo toda de ansiedade de saber o desfecho das investigações de Mr. Poirot.<br /><br />Ultimamente, porém, tenho descoberto cada vez mais afinidade com autores como John Steinbeck e Charles Dickens. Escolhi fazer um trabalho semestre passado sobre <span style="font-style:italic;">The Grapes of Wrath</span> (As Vinhas da Ira). Mal sabia eu que tratava-se de um livro de mais de 600 páginas. Entretanto, me surpreendi com a obra. Como demorei um pouco pra terminar (um mês, mais ou menos), a família Joad começou a fazer parte da minha vida, e, sempre que podia, lia mais um pouco para ficar a par da odisséia rumo à Califórnia, na tentativa de sobreviver.<br /><br />Confesso que a mensagem do livro me comove e a ideologia de Steinbeck é perceptível o suficiente para provocar reflexão a respeito de assuntos que, ainda hoje, ainda persistem como vergonha para uma sociedade capitalista acomodada. O desperdício, por exemplo: frutas apodrecendo no chão para não cair seu valor no mercado enquanto gente apodrece de fome... Steinbeck enriquece seu livro de ideologias e reflexão especialmente por alternar capítulos (um de denúcia, protesto, reflexão; em seguida, um capítulo narrando a saga da família Joad).<br /><br />Agora comecei a ler <span style="font-style:italic;">Oliver Twist</span>, de Charles Dickens. Também há muita denúncia, dessa vez, ao descaso das autoridades inglesas no séc XIX em relação aos menos favorecidos econômica e socialmente. Em Charles Dickens, é perceptível a ironia escrachada, e uma revolta em relação à hipocrisia da sociedade de sua época, inclusive por parte da literatura da época, incluindo no prefácio do livro crítica ao ponto de vista apresentado por uma obra da época, <span style="font-style:italic;">The Beggar's Opera</span>. <br /><br />Estou gostando muito, estou ansiosa para conhecer o futuro do coitado do Oliver Twist. Depois conto mais detalhes.<br /><br />Depois quero ler: ARTHUR MILLER.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-69766098520877449012010-07-06T17:22:00.002-03:002010-07-06T17:31:59.917-03:00OprahThe capacity of holding on when society tells you you're nothing and success's got no chance to you is as wonderful as watching a rose open up its petals. The examples raise from the unknown chances: you never know who are going to be the unforgettable people in the future. We don't know, yet, maybe (or we're just supposed to never knowing) the secret to succeed in our dreams. But one thing is true: trying is included in this monumental secret. Luck? Destiny? Tallent? I don't know. And I don't think destiny is the answer. It would be too easy and even the opposite of everythin' I said up to here. Why should we try if destiny is making us prisioners?<br /><br />Well, some people may say she's just a television presenter, a public-opinion-manipulator. But, hey, she's got something good to say. AND she's a nigger in the US with lots of fans. <br /><br />I saw this video on Youtube today and I think it would be nice to share her message with you. <br /><br /><object width="480" height="385"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/JaaPTUbaH_s&hl=pt_BR&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/JaaPTUbaH_s&hl=pt_BR&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object>Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-10580136647267049662010-06-22T21:50:00.002-03:002010-06-22T22:04:38.969-03:00Indivíduo x sociedade: uma ideologia simples<span style="font-style: italic;">One love one blood<br />One life you've got to do what you should<br />One life with each other<br />Sisters, brothers</span><br /><div style="text-align: right;">Lighthouse Family - "Free"<br /></div><br />Uma das coisas mais difíceis pra humanidade entender... As ideologias parecem fragmentar ainda mais a compreensão de um e todo, como se cada coisa fosse necessariamente à parte da outra. Homens acima dos animais, ricos acima de pobres, americanos acima de iranianos (ou vice-versa). E cada um dos indivíduos que sustentam a diferença é único, tem pensamentos únicos, ligados ou não àquilo que têm feito. (?)<br /><br />Nunca saberemos. O fato é que enquanto você está lendo o que eu escrevi aqui, não acho difícil que você esteja pensando em algo que eu não pensei, esteja aplicando a um contexto que eu não conheço. Porque você é diferente, e seu valor é afirmado por isso. O que parece tão difícil de equilibrar (que é o que eu de fato quero dizer) é o conceito da unidade individual e da unidade maior (social). De fato, parece complicado querer mudar uma sociedade inteira sozinho(o que seria pensar só no meio maior) e acabamos na responsabilidade individual de novo. Coisa como o único jeito de não ser é individualista é sendo individualista de outro jeito.<br /><br />Nisso eu lembro dum pensamento dum mestre: aparentemente tão simples... Na verdade é a resposta pra uma pergunta complicada o suficiente pra alcançar nossos tempos:<br /><br /><span style="font-weight:bold;">“Todas as coisas, portanto, que quereis que os homens vos façam, vós também tendes de fazer do mesmo modo a eles; isto, de fato, é o que a Lei e os Profetas querem dizer." - Mat 7: 12</span><br /><br />O equilíbrio perfeito, como havia de ser, tão simples.<br /><br />Tenha um ótimo dia!Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-68533828044853640692010-05-03T20:51:00.001-03:002010-05-03T20:52:36.271-03:00LucimarNa xícara de café, Lucimar era o fim. Era o que era sentada, bolacha cream cracker na boca. E mais um gole de café. Ninguém dela teve dó. Na areia preta da praia perto de onde morava, Lucimar via a poluição representar seu estado deprimente. Era toda saudade, saudade sem alcance e sem sentido, sem fim, sem rumo. Saudade da vida que não volta. A vida dele. Carlos fazia tempo havia deixado a casa, e desde então o cheiro de mofo era a única coisa que, pelo menos em tempo de chuva, servia de companhia à pobre Maria. Seu arroz ainda era a mesma delícia, seus bolos, também. Os filhos, piores ainda, céus: o mesmo de sempre. Uma vez no ano, dia das mães. Os mesmos presentes. <br /><br />Cinema preto-e-branco tem graça, mas apesar de que a vida dela era colorida e 3d, pouco fazia sentido, quiçá gargalhadas. Sabia das fofocas da vizinhança, e quando as outras mulheres depois dos 50 pareciam querer dar-lhe alguma atenção ao contar alguma meia-verdade sobre a vida alheia, sentia-se pouco mais útil. <br />A praça, pelo menos, era bonita. Era seu lugar preferido da cidade. Cidade costeira, mas no ritmo do interior: pacata, graças a deus e a nossa senhora uma padroeira qualquer de que ela já nem lembrava mais. Lembrava que quando a mãe lhe trouxera à missa pela primeira vez, levara um susto enorme quando o sino tocou bem na hora em que as cores das flores a distraíam, levando-a para outra dimensão. Santa ciumenta, essa. Desde então decidiu que não teria mais intimidade com essas santas não, mas que coisa. E voltando à praça, sempre foi florida, e quando chovia ficava mais bonita ainda. <br /><br />Lucimar terminou o café.<br /><br />Era domingo, dia das mães. Toda a minha vida foi um dia só, pensou. E decidiu (como quem decide ficar de mal da santa) que não queria mais vidinha dessas não. Foi até a praça. Os filhos certamente iriam à sua casa, bem nesse fim de tarde. Primeira pergunta: vão me procurar? Resposta: danem-se. Quero que se danem mesmo quando chegarem lá e encontrarem no ar o cheiro da minha ausência. Não o cheiro da saudade, apenas, da decepção. Vai feder, até. E ficou sentada no banco da praça. Admirou as flores, como apenas se dera ao luxo de fazê-lo quando ainda era muito jovem, jovem o suficiente para achar que o mundo é só o que seus olhos escolhem ver, uma coisa de cada vez. Tão vermelho, tão branco, tão rosa... quanto a paz que invadia seus pulmões. <br /><br />O terror a perseguia, porém. Além do sino, a imagem do Cristo sangrando numa cruz baixa, talvez para ficar na cara de quem no banco senta. Talvez como um desafio pra ver quem ainda sente paz ao olhar para o outro lado e ver aquela imagem horrível. Lucimar pensou no sofrimento daquele pobre coitado e chorou, sentiu culpa, pena e vergonha. Mas por que diabos botam um negócio desses pra atormentar a gente?! Virou o rosto, o Cristo tinha que entender que não era por mal que lhe dava as costas. <br />- Senhora táqui faz tempo?<br /><br />Assustada, Lucimar olha. O maltrapilho se dirige a ela, ela de olhos arregalados.<br /><br />- Tô não moço, e você?<br /><br />- Também não. Deve ta distraída, né?<br /><br />- Só to sentada, tomando um ar. Quis sair de casa.<br /><br />- A senhora tem razão. Apesar da chuva ta muito quente.<br /><br />Seguiu-se algum tempo incontável: conversas sobre o clima, o suficiente para gerar intimidade. Só que Dona Lucimar não sabia lidar muito bem com intimidade. Intimidade tipo amizade, digo. Seu Carlos era seu amigo profundo, mas tão profundo, que se comunicavam em silêncio. E era o silêncio que culpava Lucimar, dia, noite, tarde e mesmisse...<br /><br />- Escuta, seu mocinho: não sabia que tinha mendigo aqui não. Seu trabalho te suja tanto assim?<br /><br />- Me suja por fora, me limpa por dentro. Bato no peito com os calos da mão e digo que trabalho. Naquela casa, ali em cima, ta vendo? Tão reformando.<br /><br />- Meu nome é Lucimar (ousadia).<br /><br />- Osmar.<br /><br />- Bonito. É daqui mesmo?<br /><br />Mal sabia dona Lucimar... Não era dali, era da capital. Mas de dona Lucimar em diante, veio de lá pra na praia ficar mesmo. Não naquela, mas dois anos depois numa praia mais limpa. Osmar fez D. Lucimar vestir maiô de novo! Sorrir de novo! E, tomar café com alegria. E, ver nas flores sorrisos, em vez de sacrifícios.<br /><br />E vida nova em vez de mesmisse.<br /><br />Até a novidade inevitável fatal.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-33066536513557454602010-05-03T20:06:00.000-03:002010-05-03T20:09:03.270-03:00Quando eu não sonhar com vocêJá sonhamos com uma casa à beira do lago, quando dois anos desafiavam nossa vontade. Sonhamos com uma casa ao pé da montanha, em silêncio mental, imaginação calada. Já sonhamos com uma casa pequena, assim, pequenina pra gente não ter muito o que varrer. E hoje sei que o sonho foi tudo aquilo que já vivemos – juntos ou não – e, continuamos sonhando. Só alcançarei a realidade, quando concreta for a visão do seu sorriso dizendo que o dia já é dia, o sol morrendo de inveja lá fora. Em canções, falamos da realidade; tocamo-las, quase, ao tocar com os dedos, o rosto doce de cada um. Embalamos nossos desejos no ritmo das palavras, dos sussurros, das respirações ofegantes... mas ainda não temos os pés no plano real.<br /><br />Não sou a garota rica, você o menino pobre, nem vice-versa. Não vivemos o amor rápido e intensificado que precede uma tragédia iminente. Nunca fomos rivais, nem sequer nossos pais. Isso não é maravilhoso? Somos duas pessoas pobres e simples, compartilhando a vida e ainda sentindo o sangue arder nas veias quando as mãos largam o corpo do outro. Antes, anos separavam-nos, agora, por quatro deles estamos unidos. E fico feliz como uma criança que ganha uma loja de doces quando percebo que estamos bobos diante das mesmas coisas e ainda nos sufoca o beijo que parece nos tornar um corpo só.<br /><br /> Quando acordarmos do sonho, ah, sim, quando estivermos numa casa qualquer, eu vou fingir que te rejeito, vou ouvir música velha pra te irritar: não vou conseguir. Você me persegue em qualquer plano, sabe me seguir, me prever, me sentir, me... Encontrar pássaros cantando é surpresa; surpreender-me-á qualquer desvio de atenção, se não me permites. E a cama? Eu perguntaria melhor: e a casa? É só aparato. O som do mar se calará em seus sussurros, a casa se perde em tamanha pequenez. No toque do seu nariz o mundo começa e termina.<br /><br />E aí estaremos perdidos na vida real, depois de uma longa noite de sono e chuva e trovões e relâmpagos sem que nada tenhamos ouvido ou visto. Confissão: desde criança tenho o mesmo pesadelo: alguém me persegue, e no sonho tenho consciência de que não posso vencer ninguém, porque tudo se resume ao perseguidor. E se a realidade mandou recado pelos meus sonhos? Profecia! Nunca pensei que eu poderia não querer vencer...<br />Tudo que eu nunca soube talvez não fosse pra saber, tudo porque ainda não chegou o tempo de ser, de a plenitude estar sob meus pés. E quanto mais eu penso, mais quero, mais lembro, mais choro. Ah, eu choro, delicado coração sem dó. Sem nem parecer, de duro se fez pra melhor passar. Em troca, ganho de você chocolate e brincadeiras de medir força, a força que eu não tenho de resistir ao seu carinho. Ganho suas declarações falando dos seus cabelos brancos do futuro. <br /><br />Quando eu puser os pés na nossa casinha, vou sentir o gosto agridoce, depois doce das tristes melodias blues e bossa: vou procurar a doença só porque estou curada antes mesmo de adoecer. Meu amor, minha casa, meu coração, tudo uma coisa só...<br /><br /><object width="480" height="385"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/Ql-4az1V-9Q&hl=pt_BR&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/Ql-4az1V-9Q&hl=pt_BR&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object>Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-89519013714759419752010-04-16T13:21:00.003-03:002010-04-16T13:42:51.679-03:00Vida novaOlá, queridos leitores!<br />Sim, ainda estou viva, quem diria. Mais viva que nunca! <br /><br />Várias vezes postei aqui sobre qualidade de vida, percepção, alimentação. Eu mesma tinha deixado de me observar, até certo ponto tinha desistido de mim. Vim aqui pra contar pra vocês dois grandes aprendizados. Eu precisei de tempo até compreendê-los, acho que agora aprendi a lição, mesmo que ela jamais termine.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">1. Mudar de vida é uma questão de escolhas. Não de uma só escolha.</span><br /><br />Sabe qual era o meu problema? Eu pensava: não vou emagrecer mesmo. Vou comer isso [uma coxinha, um churro, uma tapioca com litros de leite condensado]. E comia, quase que dia após dia, ou pelo menos toda semana. Uma só escolha errada a gente toma na cara, se levanta e aprende. Com uma coleção de escolhas erradas, fica cada vez mais difícil. Acho que eu esperava emagrecer um quilo só pelo fato de eu ter trocado a coxinha pela salada [que ainda tinha leite condensado!] xD<br /><br />Tentei ser vegetariana duas vezes, sem sucesso. Eu ainda não estava preparada nem pra abandonar as coxinhas, quanto mais a carne...<br /><br />Bom, mas eu revi uma colega, apenas VINTE kg mais magra e comecei a pensar que eu realmente devia me envergonhar. Já estava quase com 65kg, em meus humildes 1,60m. Uma coxinha de gorda. Comecei a trocar tudo: cortei os pães duas vezes ao dia, enchi meu prato de verduras, tomo 2,5 a 3 litros de água por dia... E o resultado, meu Deus, foi possível! Hoje peso 7kg a menos, tenho 57kg! Ainda tenho menos 5kg à frente, mas já estou em bom caminho, muito mais saudável, feliz e decidida. Afinal, quem começa com uma escolha tem mais muitas outras pela frente. <br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">2. Quem está de bem com a vida BRILHA.</span><br /><br />Não precisa ser um alto executivo, ganhar o BBB, ter 5000 amigos no orkut, ser um grande atleta. Mas quem está feliz consigo mesmo deixa isso muito claro pra todo mundo em volta, mesmo sem querer. As pessoas sentem a energia positiva, e o melhor de tudo, você também sente a própria energia. Sorrir, ter a intenção de alegrar, mostrar outras opções, experimentar sabores novos, conhecer gente nova, ou simplesmente ter uma atitude nova (dar um beijo naquele seu avô brabo), tudo isso sai naturalmente de quem está bem dentro de si. Parece que o próprio corpo é uma roupa perfeita. <br /><br /><br />Sucesso está longe dos escritórios, bancos e palcos... Satisfação não é necessariamente conseguir um emprego socialmente prestigiado tão sonhado... Essas coisas ninguém ensina em paletras pré-vestibular. Só que a gente precisa quebrar a cara pra descobrir isso. E ver um dia que o maior herói não é aquele empresário financeiramente privilegiado que aparece na tv. É o seu pai, que aos 40 ou 50 tem uma família, um emprego e sabe exatamente o que vai fazer da vida, diferentemente de você, que ainda está tentando descobrir.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-34956191781393255092010-03-02T14:41:00.005-03:002010-03-02T15:24:06.036-03:00Comunicando sem comunicarMuito tempo sem postar, ein? Nem me fale. Fim de semestre é assim mesmo...<br /><br />Bom, na próxima segunda faço uma apresentação na disciplina de Sociolinguística (quase que eu ponho o ¨... e agora, pra perder o costume?). O tema? Competência Comunicativa. Achei um vídeo no Youtube bem... interessante. Confira:<br /><br /><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/XXE4OOj4Feo&hl=pt_BR&fs=1&color1=0x234900&color2=0x4e9e00"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/XXE4OOj4Feo&hl=pt_BR&fs=1&color1=0x234900&color2=0x4e9e00" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><br />Pra começar, esqueça o título do vídeo. O problema aqui não é burrisse. Não se trata de uma falta de competência (entenda-se por competência aqui a definição de Chomsky, quando se refere à capacidade inata que todo ser humano tem de desenvolver a lingugem através de mecanismos psico-biológicos que lhe são inerentes). Mas é isso que acontece quando alguém se vê numa situação comunicativa em que entende que são necessárias ferramentas linguísticas (vocabulário, conceitos, conjugações verbais), porém, não as tem. É que quem não tem cão não caça porque pra isso o gato não serve. Se levar o gato, é nisso que dá: a pessoa perde-se no próprio discurso, inventando termos, estruturas, na tentativa de atingir uma outra variedade linguística.<br /><br />É o que se observa claramente quando a entrevistada responde à pergunta <span style="font-style:italic;">Você acredita em céu e inferno?</span>. Na verdade, ela quer dizer que céu e inferno são conceitos simbólicos que podem ser manifestos pelo estado de espírito, ou comportamento das pessoas. Então ela tenta comparar com uma loja: de lá voltamos com os produtos que caracterizam aquela loja. Se vamos em uma loja de calçados, voltamos com as sandálias. Se entramos num estado de espírito infernal, "saímos de lá", ou seja, transmitimos isso às outras pessoas. Desse modo, traz-se coisas boas ou ruins do interior do próprio ser. Contudo, o que observamos é que a entrevistada acaba se perdendo na comparação que tenta elaborar, dificultando a transmissão da mensagem.<br /><br />A entrevistada se perde ainda mais quando, por exemplo, tenta explicar conceitos místicos, mitologia e literatura, saúde e até Petrefiolismo (vocábulo que ela cria para deixar mais elaborado o discurso tentando utilizar-se de palavras de uso restrito). Isso prova que doida ela não é coisa nenhuma, pois é capaz de perceber uma situação que requer um outro comportamento, tanto linguístico como social. Note, por exemplo, como ela se mexe, sorri, abre a boca, provavelmente na tentativa de imitar entrevistados que deve ter visto na TV.<br /><br />Aqui entra a lição. E uma mensagem direta à responsabilidade do professor. É preciso que o mesmo preocupe-se não apenas em ensinar a seus alunos a variante padrão da língua portuguesa, que crua vai parecer pouco ou nada atraente, vai soar inútil. Antes de tudo, faz-se necessário que o aluno entenda que ele já domina sua língua e é perfeitamente capaz de comunicar-se através dela. A novidade é acrescentar ao conhecimento do aluno novas ferramentas linguísticas, de modo que o próprio possa dispor-se das ferramentas requeridas pelas mais diversas situações. E depois de ensinar porque o trabalho é importante, o aluno adquire as ferramentas e vai aprendendo a encaixar cada peça em seu devido lugar.<br /><br />Escola não é pra ensinar língua portuguesa. É pra desenvolver competência comunicativa em língua portuguesa.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-54434675278574253092009-12-30T14:35:00.005-03:002009-12-30T15:18:32.910-03:00As faces de Apolo<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_t1CmpxQSO0s/SzuZT69wogI/AAAAAAAAAGo/7HzJmuc-aig/s1600-h/450px-Apollon_opera_Garnier_n3.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 300px; height: 400px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_t1CmpxQSO0s/SzuZT69wogI/AAAAAAAAAGo/7HzJmuc-aig/s400/450px-Apollon_opera_Garnier_n3.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5421095143995384322" border="0" /></a><span style="font-size:85%;">Apolo entre as musas da música e da poesia</span><br /><br /></div>Apolo, Febo, Timbreu, Aquele que empunha o arco. Essas são quatro diferentes formas através das quais Virgílio refere-se ao jovem filho de Júpiter.<br /><br />O sol, desde civilizações muito anteriores à grega e à romana, foi venerado como referencial masculino, símbolo do deus pai. Ao sol ligam-se, por exemplo, os símbolos fálicos, o deus de chifres e o deus azul. E o sol é também o primeiro atributo de Apolo, que ficou conhecido como o deus sol.<br /><br />Entretanto, com o tempo, Apolo foi ganhando importância e muitos outros atributos, entre eles, a juventude, a justiça, a medicina e as artes (líder das musas), além de excelente arqueiro. Quando o culto ao deus ganha em destaque em Roma (conhecido como Febo), este passa a ter um lugar de destaque, quase tanto quanto o próprio Dicteu (Júpiter, Zeus).<br /><br />Além de referência divina do sol, Apolo (ou Aplu, ou Apulu para os etruscos [civilização que provocou choque aos recém-chegados romanos na Itália, mas também teve muito de sua cultura absorvida]) também ficou muito famoso por seu papel como profeta. Nascido tanto ele quanto sua irmã Ártemis (muito similar ao arquétipo da deusa mãe, especialmente por ser uma deusa lunar) na ilha de Delos, os gregos ali estabeleceram um templo dedicado à Apolo durante as Guerras Médicas, sendo o local a sede da Liga de Delos.<br /><br /><span style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;">Era cultuado em toda a Grécia, notadamente na ilha de Delos, consagrada a ele, e em Delfos, onde ficava o famoso </span><a style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;" href="http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0601">santuário</a><span style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;"> com o </span><i style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;">Oráculo</i><span style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;">. </span><span style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;" id="nobr">Dizia-se</span><span style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;"> que Delfos era o centro do mundo, o que era representando pelo "ônfalos", uma pedra em forma de umbigo. Além de diversas festas, como as </span><i style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;">Carnéias</i><span style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;"> (Esparta), as </span><i style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;">Targélias</i><span style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;"> (Atenas e Jônia), e as </span><i style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;">Délias</i><span style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;"> (Delos), as </span><i style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;">Teoxenias</i><span style="color: rgb(0, 102, 0); font-style: italic;"> e os Jogos Píticos de Delfos eram também celebrados em honra de Apolo.</span><br /><div style="text-align: right;">Graecia Antiqua<br /></div><br />Atenas e Delfos também tiveram destaque no culto a Apolo, especialmente porque o mito narra que Apolo assumiu o Oráculo de Delfos, consultado por autoridades em geral, em questões como legislações e guerras.<br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 102, 0);">Não tomava a iniciativa de impor regras ou políticas, mas quando surgia alguma questão delicada as cidades frequentemente o consultavam, para resolver disputas e guerras, quando desejavam criar legislação ou fundar colônias, e quando precisavam instrução sobre saúde e bem-estar coletivos na emergência de pragas e outras calamidades, quando o deus informava sobre os ritos purificatórios e sacrifícios necessários para afastar o mal. Também impunha penalidades para maus governantes e regulava os requisitos para admissão em cargos públicos. Suas decisões eram geralmente acatadas, e quando não o eram, desastres imprevistos podiam suceder. O oráculo adquiriu tamanha autoridade e o respeito de todos os gregos não apenas porque era a voz de um deus, mas porque conseguiu se manter relativamente neutro em todos os conflitos públicos que administrou.</span><br /><div style="text-align: right;">Wikipédia<br /><br /></div>Corinto também é citada na bíblia como local onde prevalecia o culto a Febo.<br /><br />Quando li pela primeira vez sobre Apolo, achei que ele é um ótimo exemplo da complexidade dos personagens mitológicos. Muitas vezes, atribui-se a eles apenas um único atributo. Fulano é deus disso, Cicrano é deus dos cicros, e por ae vai. O arquétipo divino se multifaceta em muitas divindades, em variadas civilizações e lugares no tempo e no espaço. E cada deus também se multifaceta. Acho que o catolicismo queria simplificar demais quando instituiu "a Trindade".Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-19537236175264841732009-11-21T21:42:00.002-03:002009-11-21T22:09:28.381-03:00Gatinhos azuisMeio assim, meio assado, ficou de canto. Nem ria, não estava séria. Estava, apenas. Tinha o nada estampado na cara, uma máscara que tornava invisível o rosto, a expressão, o pensamento: tudo mudo.<br /><br />Primeiro dia de aula é sempre assim? Não. As meninas e meninos berravam querendo as mamães de volta, o mundo as roubara, não, pior ainda, as mães abandonavam os filhos... Mas ele ficou ali sentado esperando. O que eu não sei, nem ele mesmo sabia, sabia que esperava só. A paciência é um exercício praticado com excelência especialmente na ignorância, tanto quanto é frio o prato da vingança.<br /><br />Ninguém dizia seu nome, então pra quê se levantar? Tinha as perninhas cruzadas. A tia tava por demais ocupada controlando os berros, tentando transformá-los em respostas unânimes: o abecedário era aos poucos desenhado na lousa, e os choros apagados. <span style="font-style: italic;">O "a", pessoal, vamos lá, digam: "aaaaaaaaaaaaaaaaaaaa"</span>. Cá e lá se ouvia cada vez mais juntinhas as vozes agudas de árvores-de-flores-de-primeira-viagem: "<span style="font-style: italic;">aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa<span style="font-style: italic;">"</span></span>. E a tia sorria. De repente, uma palavra.<br /><br />A palavra, o mistério, o desconhecido conhecido, o código repetido e não decodificado. Intacta, a palavra na lousa. Jean tava tentando sintonizar onde todo mundo estava, onde ele mesmo estava no todo mundo. E foi só depois que a palavra apareceu que ele se encontrou: se achou na palavra, luz irresistível.<br /><br /><span style="font-style: italic;">Gato!</span><br /><br />A palavra ecoou na sala. Bofetou cada aluno, estardalhou a tia, a tia que já não sabia mais o que fazer. <span style="font-style: italic;">Que diabos um alfabetizado faz nesta sala...</span> A tia ralhou em silêncio. Coitada: tentava explicar ainda por que havia um um "a" na palavra, por que um "g", um "t", um "o". Mas o fim: <span style="font-style: italic;">Gato.</span> Jean espalhou as cartas na mesa, um<span style="font-style: italic;"> straight flush</span>. A professora não sabia, mas havia apostado que todo mundo era analfabeto, que ela não era todo mundo. Não fazia parte, por isso não estava ali, não sintonizava com a criançada.<br /><br />Contudo, não se deu por vencida. <span style="font-style: italic;">Loirinho, que menino brilhante! Vem aqui!</span> Jean não sentia o cheiro bom do pedido da tia, mas foi sem ser atraído. Foi sem contrariar, como se ainda estivesse com as perninhas cruzadas intactas.<br /><br /><span style="font-style: italic;">O gato era azul</span>: fizera assim ser a frase a ser lida no quadro. A sala caiu na risada geral, a professora em pele de maestro. <span style="font-style: italic;">Azul, loirinho, tem certeza?</span> Azul, azul da humilhação. <span style="font-style: italic;">Meu nome é Jean, tia, e não loirinho. Azul porque eu pintei o gatinho. Pode pintar tudo que eu quiser. O poder de pintar é meu. Vamos pintar gatinhos azuis?</span><br /><br />A meninada lembrou os lápis-de-cor. O encanto: as cores, as formas, os desenhos, o poder, a vida: era deles, sim! O gato podia ser preto, roxo, azul, vermelho, à moda de cada criador. Começou um festival de abre-bolsas, pega-lápis-de-cor, arranca-folha-de-caderno. A tia queria arrancar os cabelos.<br /><br />Mas percebeu que era bom ter poder o suficiente para distribuir: havia de prender o poder da palavra ao da imaginação. E era bom deixá-los pintar gatinhos azuis.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-22574710363676480422009-10-03T13:25:00.003-03:002009-10-03T13:29:56.509-03:00o vermelho do sangue é flores.<span style="color: rgb(255, 0, 0);"><span style="font-size:180%;">SANGUE NÃO É VERMELHO.<br />É VERMELHO MAIS FORTE.<br />NÃO PENSE NO VERMELHO DO SANGUE.<br />PENSE NO VERMELHO DAS FLORES.<br />DAS ROSAS QUE VOCÊ NÃO PODE COMPRAR.<br />É, PENSE.<br />DE NOVO.<br />NÃO NO VERMELHO DO SANGUE, QUE NÃO É ESSE AQUI.<br />E PENSE QUE AS FLORES ESTÃO DERRAMANDO.<br />E QUANDO ALGUÉM CAI, FLORES CAEM-LHE DA PELE.<br />E O MUNDO É MARAVILHOSO, PORQUE ESTÁ CHEIO DE FLORES, ESPALHADAS PELO CHÃO, DESCENDO DAS ESCADAS, DISPAROS ESPALHAM ROSAS POR TODO LUGAR.<br /><br />QUER SABER EM QUEM VOCÊ PODE CONFIAR?<br />EM QUEM NÃO TEM FLORES VERMELHAS.<br /></span></span>Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-64403569856610888052009-10-03T13:16:00.001-03:002009-10-03T13:29:23.884-03:00Na selvaPassou por mim um sorriso. O peso de um sorriso. Nem consigo equilibrar peso e sorriso numa balança: aparentemente sorrir é tão leve... Gostaria de aguentar tanto quanto todo o resto da selva. Minhas perninhas, ah, minhas perninhas nem correm que preste ainda. Ser jovem é muito bom, dizem, mas jovem é indefeso. No sorrisos, vejo apenas os dentes, a intenção ardendo sem palavras. Cada vez mais perto do perigo, cada vez mais agilidade – entre sustos e arranhões – me é exigida: consumida, arrancada, não há escolha, se não viver ou morrer. Ficar, come, correr, pega, sabe como é.<br /><br />Atrás de uma pedra, enquanto não bate a fome, é possível descansar, ser jovem tão maravilhosamente quando descrevem. Na verdade, acho que aos 40 anos o que acontece é apenas uma troca que tem um preço: troca-se o encanto juvenil pela defesa engrossada, só que não somos poupados do preço de estar mais próximos ainda da morte, duma morte que independe de agilidade ou sabedoria.<br /><br />Então vamos vivendo: só amor não é suficiente. Um dia, as mães deixam as crias.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-45075968792357180072009-09-02T13:33:00.006-03:002009-09-02T14:14:43.943-03:00Caderno de receitas.<span style="font-style: italic;">Sobre a mesa, o agrião, a cenoura, o alho, o arroz. Nada ficava tão calmo... Era hora de ser eu, pensou.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Tarde de março, fim da paciência de esperar pela aula. Gostaria de estar em casa. Entrou na papelaria, mecheu nos pincéis: mente vazia. Cá num canto, meio escondido, um lindo caderno de receitas. Folhinhas cor de salmão, divisórias e muitas medidas; de fato seria útil e, sim, um miniluxo. Inspirando o prazer não só de comer, mas também de fazer a comida. Comprou-o e voltou orgulhosa à sua casa, orgulhosa na frente do fogão: sabia exatamente o que fazer.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Uns dias, em frente ao forno, ficava ansiosa, a meia-hora não passava, a ansiedade a engolia. Doce vontade de ver o bolo crescer. Aprendera com a mãe a pré-aquecer, mas ainda morria de medo de se queimar para acender o forno. Bons momentos de cereja... Coroam a lembrança do comer. Do fazer.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">E agora, a sós consigo mesma, sobrara-lhe a simples tarefa de fazer o arroz, inventá-lo com agrião. A mãe fora de casa, deixara quase tudo pronto. Apenas quase, ainda bem. E foi pôr sua pitada de sal da alma pro arroz branco ficar ainda mais gostoso. E não é que ficou lindo, uma delícia o laranja brincando no branco?!</span><br /><br />O prazer de comer.<br />Comer, não, o prazer de comer. Comer a gente come todo dia. Em todos os lugares do mundo, nos mais inúmeros tipos de refeições, as pessoas param e ingerem energia. Mas ainda existe prazer?<br /><br />A cozinha contemporânea é um ótimo exemplo de busca de prazer, num misto de simplicidade e sofisticação. Desde as menores refeições aos mais elaborados coquetéis, têm feito cada vez mais sucesso quando se quer comer muito e mesmo assim não disperdiçar sensações enquanto o alimento segue seu caminho.<br /><br />1. Comece a comer pelos olhos.<br />Visite <a href="http://cozinhacontemporanea.com/">COZINHA CONTEMPORÂNEA</a>. Dê uma olhada nas imagens. Cores fortes, texturas suaves, quase nos fazem sentir o comportamento da comida na boca, só de olhar. Paquere o alimento. Prepare-se para comê-lo, entenda as cores. Fique feliz, sim, feliz, de olhar. O impacto que as refeições têm é primeiramente entendido pelos olhos: afinal, esse é o primeiro critério que usamos para decidir se vamos ou não degustar uma guloseima ou uma salada. Tem de parecer agradável aos olhos, só então teremos motivação para passar para a boca, que é um segundo passo. A digestão começa, sim, pelos olhos.<br /><br />2. Experimente sabores.<br />Nossa personagem acima nunca tinha feito arroz com agrião. Com cuidado pôs uma pitadinha e... <span style="font-style: italic;">voilá</span>! Misture sabores. Proporcione a si mesmo mais de 3 refeições por dia, variando o máximo possível. Um chá verde no meio da tarde, uma maçã no início da noite, um copo de vinho no fim da noite... Alimentos simples, quando bem dosados, podem aumentar o prazer durante o dia, proporcionando vitalidade, bem-estar e disposição.<br /><br />3. Coma devagaaaaaaaaaaaaaar. Ninguém vai roubar seu prato.<br />Tempo é dinheiro, tic, tac, tic, tac, tic, tac. Todo mundo está cansado de saber que vivemos numa sociedade capitalista, que não temos tempo para comer bem, que... Pare. Em muitos casos, as pessoas mantêm uma rotina de trabalho sufocante não para manter um padrão de vida, mas para ganhar mais 50 ou 100 reais num mês. Isso realmente faz falta? Organize-se, revise seu tempo, programe-se. O SEU tempo deve fazer parte de sua rotina. Que adianta respeitar o mundo e não respeitar a si próprio? Dê um tempo. Sente, paquere a comida e coma. Coma devagar. Quando mastigamos apropriadamente os alimentos, aumentamos a sensação de saciedade e o processo de digestão acontece com maior rapidez, além de evitarmos aquela sensação de barriga cheia o suficiente para ficarmos sem a mínima coragem de levantar da cadeira.<br /><br />4. Pequenos luxos fazem parte.<br />Um encontro num restaurante? Programe. Nem sempre temos dinheiro para frequentar bons restaurantes, mas, esporadicamente, é bom sair da rotina. Culinárias diferentes das quais estamos acostumados ajudam a despertar os sentidos, especialmente o paladar, é claro. Reanimam, alegram e até aumentam a auto-estima.<br /><br />Para persuadir uma pessoa devemos tocar seu... Estômago. Para muitos orientais (especiamente chineses), a conotação atribuída ao coração tem lugar no estômago. Lá os alimentos (e nós mesmos) nos tranformamos. As energias são absorvidas e misturam-se a todo vapor lá dentro. E o melhor de tudo é que mesmo em nosso agitado cotidiano é possível - com simples ajustes - aumentar o prazer de viver através do nosso combustível: a querida comidinha de todo dia.<br /><br />Dica: aprenda a cozinhar: é uma delícia também. Se possível, tenha um caderno de receitas. Proporcionar o prazer de outras pessoas tem um sabor indescritível. Compartilhe, divida, coma junto com outras pessoas, cozinhe para quem você gosta, potencialize sua felicidade no dia-a-dia, na sua realidade!Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-27071991018206660282009-08-11T20:46:00.005-03:002009-08-11T21:22:20.294-03:00Vento que finge ser vendaval. (ou) Das ilusões.<div style="text-align: center;">Quem nunca se iludiu na vida?<br /></div><br />Superproduzimos expectativas o tempo todo. A gente se arruma toda, põe uma maquiagem perfeita, fica com o coração disparando - mesmo que meia hora depois a gente descubra que não precisava tanto. Imaginamos que, agora sim, temos o emprego perfeito (na primeira reunião de trabalho já dá vontade de pedir as contas).<br /><br />E chega a solidão. Fica óbvia a realidade dura, a ausência, a falta que lhe é sempre peculiar. Sozinhos porque, frente à realidade, não temos as expectativas como companhia. Às vezes, temos apenas a tímida companhia da esperança. O engraçado é que é tão fácil perceber quão ridículas são as expectativas alheias, enquanto nós mesmos estamos cheios de sonhos dourados.<br /><br />Está comprovado: não é uma mera questão de ingenuidade. De fato, normalmente, um adulto de 30 anos ilude-se mais que um adolescente de 12. Mas continuamos a construir as estradas além do horizonte. Não podemos tocar o que há no futuro, não podemos vê-lo, só podemos alcançá-lo (e aí já é tarde demais, porque o mesmo já deixou de ser futuro e agora é presente) ou imaginá-lo. Projetamos pontes imaginárias que ligam o nosso passado ao suposto futuro o tempo todo.<br /><br />Umas vezes, calculamos onde se quer chegar: o tamanho da ponte, a quantidade de corda e madeira, a largura, a física dos ventos. Racionalmente, sentamos e calculamos tudinho. E dá uma felicidade danada descobrir que vai dar tudo certo - aparentemente. Quando o futuro vira presente, porém, às vezes a gente leva uma rasteira: é quase impossível pensar em todos os detalhes, e, mesmo que isso seja possível, não podemos evitar que as coisas fujam do rumo. A natureza é imprevisível, o futuro, no fim das contas, também o é.<br /><br />Então ficamos pensando... O que fazer para evitar decepções, fantasias?<br />Acredito que é impossível evitar completamente ilusões: primeiramente porque as expectativas (onde muitas vezes as ilusões residem, apesar de serem duas coisas totalmente diferentes) são inerentes ao comportamento humano: nos protegemos pelo medo e estendemos nossos tentáculos abstratos rumo ao futuro. Ambas são projeções comportamentais desenvolvidas para suprir uma falta, ou uma fome. Em segundo lugar, a criação de expectativas são uma espécie de prazer, e aí eu comparo mais uma vez à fome física. Comemos não só para evitar uma deficiência energética, mas <span style="font-style: italic;">sentimos vontade de comer</span>, e assim também sentimos <span style="font-style: italic;">vontade de futuro</span>, experienciando um prazer antes mesmo que ele chegue - se é que ele vai mesmo chegar.<br /><br />Deixo aqui um link de um artigo da revista<span style="font-style: italic;"> Vida Simples, </span>que eu a d o r o tratando do mesmo assunto, em linhas um pouco mais específicas: <a href="http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/079/grandes_temas/conteudo_450012.shtml"><span style="color: rgb(153, 51, 153);">CLIQUE AQUI</span></a><br />E deixo também uma música dos incríveis Beatles que me faz pensar no assunto, <span style="font-style: italic;">Eleanor Rigby</span>, do álbum <span style="font-style: italic;">Revolver</span>, de 1966.<br /><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/FxyJLxV0_-8&hl=pt-br&fs=1&"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/FxyJLxV0_-8&hl=pt-br&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><br /><span style="font-style:italic;">Ah, look at all the lonely people<br />Ah, look at all the lonely people<br /><br />Eleanor rigby picks up the rice in the church where a wedding has been<br />Lives in a dream<br />Waits at the window, wearing the face that she keeps in a jar by the door<br />Who is it for?<br /></span>Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-18562517497408545922009-08-03T15:03:00.005-03:002009-08-03T15:29:02.465-03:00Sereia do Mar<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_t1CmpxQSO0s/SncsUxqZvfI/AAAAAAAAAGQ/4bP0zH3ulK0/s1600-h/Pesca2.JPG"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_t1CmpxQSO0s/SncsUxqZvfI/AAAAAAAAAGQ/4bP0zH3ulK0/s320/Pesca2.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5365806216475426290" border="0" /></a><br />Na rede, os cilindrinhos de isopor, já não tão brancos, contam, lembram, testemunham histórias. Hoje, Cícero cansado, resolve sentar no pequeno barco. Olha as redes, que parecem sujas, mas, na verdade, já não são mais tão jovens: como ele mesmo. Toca o queixo, passa a mão, sente a barba rala e começando a ficar branca: cinquenta anos no mar se fazem perceber.<br /><br />Fim de tarde, esperava as ondas do mar mudarem de direção, esperava o mar querer ir para dentro de si mesmo. E aí podia pôr a jangada de volta no mar, como se procurasse o coração deste, em vez de peixes. Não procurava peixes, de fato. Procurava vida. A vida que vibra debaixo da água, em suas veias cheias de adrenalina, nas barrigas cheias dele próprio e da família. É bom estar no mar. Sou o mar quando nele. O cheiro de maresia, o balançar das ondas, as pernas relaxadas porém firmes a equilibrar-se, o cheiro de sal, sal, sal, o azul, o verde, as cores não-sei-o-quê, a bandeira da jangada balançando: é tudo puro encanto. É tudo lindo demais.<br /><br />As pessoas compram peixes nos mercados. Enchem as barrigas de seus filhos, lambem os dedos, chupam cada espinha, se admiram das cores. Os peixes. Elas nem sabem que eu pesco. Mas não importa. Eu sou feliz em viver tanta beleza. E ainda mudo o dia de muita gente bonita...<br /><br />Olha para a Sereia do Mar. Lembra porque aquele humilde barco levava esse nome, sorriu simples e satisfeito, dá umas batinhas na madeira, enquanto tem o corpo moreno, queimado do sol, sentado na velha companheira. Sente que ela também sorri.<br /><br />E quando a noite cobre o dia como um véu negro infinito, Cícero sabe que é hora de se deixar levar... Os músculos se articulam, se dobram num espetáculo humano diário: a busca. A aventura da busca por ela mesma. Até que já dentro do mar, segura a vela da jangada com mão firme e vigia o mar... Noite adentro, Cícero invoca o milagre da fertilidade: tira a rede cheia de peixes, até que o barco diga que já pode mais com tanto peixe, e o velho Cícero volta para a praia, e baixa as cortinas: o espetáculo não termina, apenas recomeça.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-694829514319158922009-07-31T20:16:00.003-03:002009-07-31T20:39:32.916-03:00Primavera<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_t1CmpxQSO0s/SnOAUQWIfKI/AAAAAAAAAGI/eSqWdiH0fno/s1600-h/flowers__by_Zofia_Klukowski.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 241px; height: 320px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_t1CmpxQSO0s/SnOAUQWIfKI/AAAAAAAAAGI/eSqWdiH0fno/s320/flowers__by_Zofia_Klukowski.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5364772666601929890" border="0" /></a><br />Quente, mormaço, inferno e verão. Dizem que são essas a únicas estações por aqui. Se é motivo de preconceito ao nordestino eu não sei, mas que aqui é quente eu sei que é; é e pra valer.<br /><br />A chuva demorou, gostou da casa, pendurou o chapéu e o casaco, sentou pra tomar um café e falar da novela na calçada às oito da noite. Já é meio-de-ano e ainda chove. Olha que ano passado choveu tão fininho, tão poquinho... A chuva devia mesmo estar com pressa.<br /><br />Desde bem pequena, lembro dos meus avós falando de inverno e verão, verão e inverno, inverno e verão. Mas, há pouco eu aprendera as quatro estações: <span style="font-style: italic;">primavera</span>, verão, <span style="font-style: italic;">outono</span> e inverno. Ninguém falava de primavera e verão. E eu comecei a achar que essas duas eram mentiras. Só pra complicar mais o assunto das estações (como se isso funcionasse. Há!).<br /><br />E um dia eu contei isso pra professora. Ela:<br /><br />- Não é mentira não, é de verdade. Só que não acontece aqui onde a gente vive. Só do outro lado do mundo.<br /><br />E eu achei que esse mundo era mesmo muito injusto: a comida não era dividida igual, a mesada, o salário e nem as estações. Eu devia morar num fim-de-mundo, quem sabe. Talvez onde eu moro não fosse digno disso. Via nos filmes a neve, as folhas caindo e as crianças brincando de bagunçar as folhas amarelas, as flores enchendo as ruas de toda cor, tanta cor que coloria até o ar. O ar fica mais rosa com as flores rosas.<br /><br />Acabei expressando minha indignação por tamanha injustiça. Sentei na cama, suspirei. E comecei a rezar:<br /><br />- Olha, senhor, o senhor não acha que é um pouco injusto primavera e outono e inverno só para alguns? Eu queria ver a neve. Queria ver as folhas caindo, as árvores peladinhas (sem ofensa, Deus). Mas mesmo assim boa noite.<br /><br />Uns minutos depois, minha mãe entrou no quarto. Fingiu ter percebido minha cara de aborrecida: tava mesmo era escutando eu rezar.<br /><br />- Tá com raiva de quê, Lili?<br /><br />- Não acho que seja certo eu dizer, mas... - e acabei contando a história toda.<br /><br />- Não, não, Lili, não é bem assim. Aqui a gente tem sim outono e primavera. Só que aqui elas acontecem de um jeito especial: só acha quem procura, só vê quem <span style="font-style: italic;">quer </span>ver.<br /><br />Arregalei os olhos. Não tinha pensado em procurar. Tinha só me resumido a fechar a cara e reclamar com Deus. E no outro dia, no caminho da escola, eu fui notando, procurando achar a primavera ou o outono, parecia que eu os tinha pego emprestado, perdido e precisava achá-los. Entre as duas mãos de uma pista, um canteiro verde e... flores! Flores vermelhas contrastando com o verde forte das folhas. Quando cheguei na escola, logo na calçada, um zelador limpava as folhas amarelas, marrons, laranjas! As flores de laranjeira se exibiam no alto das árvores, pincelavam as calçadas como pontinhos brancos. Percebi que já tinha visto tudo isso tantas vezes... Mas não tinha procurado, por isso, não enxerguei antes!<br /><br />Aos sete anos, tive o maior <span style="font-style: italic;">insight</span> da minha vida. Da minha vida curtinha.<br /><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:78%;">Imagem: Deviantart;</span><span style="font-size:78%;">~<a style="color: rgb(0, 0, 0);" class="u" href="http://zofia-klukowski.deviantart.com/">Zofia-Klukowski</a></span><span style="font-size:78%;"> </span></div>Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-86255342397913015722009-07-09T13:02:00.003-03:002009-07-09T13:44:09.350-03:00Quando eu não souber o que fazerGostaria mesmo de rir da sua cara. Eu queria olhar pra trás, te dar as costas. Ah, talvez eu seja muito idiota mesmo por estar apenas pensando tudo isso - e de fato nada fazer. Olhar em volta, esperar que eu mude, como uma estação? É duro parar, mas os semáforos estão vermelhos, vermelhos como o mar infestado de algas vermelhas.<br /><br />O erotismo abandonou a cama, os lençóis amassados são meras lembranças de raiva, da pressa de sair do lado do outro. Às 7 da manhã, o trabalho não é estresse, é alívio, é documento para abonar a falta.<br /><br />Quer um conselho? Procure-me mesmo assim. É, eu vou estar mesmo p da vida, vou estar de costas, vou estar o mais abusada que eu conseguir ser. Vou estar confusa, eu estou confusa, estou pensando nessa história toda de ir embora, de acordar sozinha. Mas eu vou querer muito - mas que droga, eu quero - que você me pegue, me abrace forte, assim, que eu não me deixe fazer uma besteira da qual depois eu me arrependa, mesmo correndo o risco de me arrepender por não ter feito.<br /><br />Acredite, eu espero mesmo que você faça isso, que você não desista. Acredito, sei, que estou sendo pouco ou nada razoável, porque você também é humano, apesar de pra mim não parecer. Mas esse é um segredo que precisa ser contado. Ou é um item de um manual de instruções? Apenas é importante que você saiba. E que não desista.<br /><br />Assim como eu não consigo desistir de mim mesma apenas por você.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-34205166931000501732009-06-27T14:14:00.001-03:002009-06-27T14:25:53.631-03:00Intimidade<span style="font-style: italic;">Você já é íntimo o suficiente para conhecer meus choros mais fúteis. Toda vez que meu cabelo me irritar, e por um descuido dos grandes – logo eu, que não me permito errar – chorar pelo volume excessivo de minhas cabeleiras, você vai saber. É triste talvez, acho que você nem queria; talvez seja mesmo desnecessário. Mas você vai saber. Não porque a futilidade ficará assim tão óbvia a esfregar na sua cara as razões do meu mau humor só de olhar meus olhos caídos, mas eu não vou resistir. Não vou conseguir segurar a vontade de fingir que desabafo – pois também sei que sentirei vergonha de sofrer por tão pouco. De compartilhar com você meu desagrado, minhas lágrimas de criança. É, acho que não é bem um desabafo, pois não há nada de tão pesado de que se libertar: é um jeito de compartilhar, simplesmente porque eu não resisto.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Vai, quem sabe, ficar inflamado de orgulho, imaginando o quanto se tornou irresistível, mas eu nem quero pensar nisso. Ao menos evito. Deixo-me levar pelos momentos irracionais, quando, de tão criança, quase vou chupar o dedo, apenas não o fazendo porque nunca tive mesmo esse costume.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Não vou ter vontade de, numa hora dessas, dizer eu te amo, que escolhi você tanto quanto você me escolheu ou falar de anos de amor. Não espere que eu te faça algum carinho, nem que eu o retribua (pelo menos não enquanto tomada pelo fútil mau humor). Não espere nada de mim nesta hora, por favor. Seja sempre tão compreensível quanto costuma, tão sensível a ponto de entender aquilo que, de tão frívolo, nem sequer precisaria da compreensão de qualquer outra pessoa. </span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Agradeço agora, enquanto cônscia, tudo aquilo que eu sei que você há de suportar. Espero demais de você? Veremos, mas eu acho mesmo que não, não sobre aquilo de que agora falo. Outras muitas vezes cheguei à conclusão de que realmente superproduzi expectativas, de que o erro foi mesmo meu. Tive inúmeras decepções e na maioria delas, esse foi o melhor argumento para me culpar, quer estivesse eu certa ou errada – quem há de saber? De qualquer forma, peço desculpas antecipadas. Acredito também que a oração do pai-nosso privar-me-ia de seu efeito caso não perdoasse meu próximo, mesmo um tão próximo do coração como você, mas, não se preocupe, não é mero interesse subliminar. É prevenção, antes que seja subvertida por meus próprios instintos animalescos.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Finalmente, antes que este papelzinho branco acabe, imagino você acordando às 7:00 como sempre, lendo aquilo que era pra ser apenas um recadinho de cabeceira e acaba de transformar-se numa missiva completa, faltando apenas o endereço que não escrevo apenas porque moro do seu lado, todas as noites. Imagino o seu sorriso tímido de orgulho ao entender cada idéia, mesmo sem ter terminado de ler tudo isso. Tento, inutilmente, entre milhares de alternativas, adivinhar o que você deve estar pensando que é uma mulher louca que sai mais cedo e deixa papel como sinal de sua presença depois de um dia confuso, mesmo que você tenha ido dormir tranqüilo como quem tivesse entendido tudo. Hera já está fora, mas há de voltar para os braços de um Zeus exclusivo. Que o Olimpo brilhe à sua frente, enquanto esse sol queima a pele de quem já está lá fora. Use protetor solar.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Um beijo na cabeceira da cama.</span>Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-22504850.post-23510724723228230512009-06-07T16:11:00.005-03:002009-06-07T16:50:53.117-03:00Doce sorrisoDe bunda na calçada, há horas, eu esperava alguém chegar com a bendita chave. É, a chave de casa não está comigo, está com a própria casa, apesar de a mim pertencer o molho de chaves, com um chaveirinho que minha mãe me deu. Mas não tem jeito, vivo esquecendo as chaves de casa e ficando do lado de fora.<br /><br />Quase que justificando minha irresponsabilidade, não é de todo ruim ficar na calçada de vez em quando. As pessoas, os pássaros, o sol, o ar passeiam por mim - e é só então que, de fato, eu os noto.<br /><br />Uma menina de cabelos presos dos dois lados da cabeça chamava a minha vizinha. Fiquei olhando a novela ao vivo. Nada de a vizinha vir, acho que a casa estava mesmo fechada, mas a menina parecia fingir não perceber; talvez para deixar sua insistência soar um pouco menos ridícula. Estava lá, gritando o nome da vizinha e batendo palmas.<br /><br />Sentou na calçada, quase do meu lado. Finalmente me notou; quis deixar o sorriso escapar, mas o reprimiu antes que a expressão sorridente a dominasse, como se isso fosse mesmo uma derrota, como os adultos parecem entender que o é. Olhou o chão, a rua de calçamento, ainda. Espalhava areia com os pés, com sandalinhas rosa-choque. Parecia não se importar em sujá-la. Parecia mesmo era que melhor era sujar as sandálias a sujar a reputação, como se ela entendesse mesmo o que diabos é isso.<br /><br />Virei o rosto pro outro lado, fingi que tinha algo realmente importante pra olhar ao oeste, e no fim de tarde, o sol o permitia gentilmente - não me cegava. Peça em quebra-cabeça é pra encaixar, mas só no lugar certo. Olhei, durante o que parecia ser muito tempo, para o oeste, mas eu senti que a menina ainda não tinha desistido. Da vizinha não, de mim. Eu que tentava dela fugir. Estava a vizinha fugindo? De repente, eu já não aguentava mais e surpreendi a menina com o meu rosto. Podia jurar que ela fingiria estar olhando o leste, mas, apesar do susto, ela se manteve olhando pra mim.<br /><br />E eu fiz a coisa errada. Ou a coisa certa? Sorri. Mas não sorri de felicidade. Sorri porque implorava dela outro sorriso. Sorri para tentar escapar da angústia que já se tinha formado como nuvem densa nos céus que eu contenho. Não pensava em mais nada a não ser em ser correspondido.<br /><br />Não sorriu. Passou-se tempo, eu, feito besta, segurando o sorriso na cara, como um pedido de paz, de um acordo, (uma rendição, talvez), eu tinha cedido, eu tinha sorrido. Mas, ficou apenas me olhando. Apertou os olhos quando, no oeste, o sol começou a chamar atenção ao fim do dia. Tive esperanças infantis quando a vi levantar as bochechas para espremer e proteger os olhos - estava cada vez mais perto do sorriso.<br /><br />Desisti.<br /><br />Olhei meus sapatos novos e quase começo a afastar com eles a areia da rua de calçamento. Mas eu sou adulto, lembrei; não podia. E como um alívio divino, a vizinha chegou, com uma sacola de compras, um beijo na testa da menina e pôs-lhe um doce nas mãos. A menina me olhou, sorriu: sorriu até que os dentes apareceram, até que os cantinhos sem dentes também aparecessem, num doce sorriso. Entrou na casa, desapareceu.<br /><br />E eu? Soou como um trocado de misericóridia a um mendigo. Eu, que sempre soube não ter talento com crianças, dela mendiguei um sorriso, um carinho, uma reciprocidadezinha sequer. E a gente depois que cresce pensa que sabe tudo sobre viver em sociedade.<br /><br />Conquistar pessoas é um dom.Vanessa B.http://www.blogger.com/profile/08900976313771049043noreply@blogger.com4