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quinta-feira, abril 09, 2009 

Amor de terra

Humildade é preciso: ensina-me a te amar. Você já viu meus erros, já conhece minhas vergonhas. Já conhece alguns dos meus segredos, inegavelmente. Você, contudo, parece cada vez mais palpável – eu quero aprender quem é você, o que quer, afinal de contas. E eu, quem eu me tornei, meu Deus? Aquilo que eu ainda tento descobrir o que é. E acabo concluindo coisas a meu respeito, para sentir-me um pouco mais segura. Quem é você é uma conclusão mais, segura, porém, porque tem a ver como o modo como me relaciono com você. Então espero que eu conclua paraísos de você. Eu espero tanto, tanto, tanto...

Mas meus erros também fazem de mim quem eu sou. Independentemente da existência ou inexistência da felicidade, no plano da verdade absoluta e além de quaisquer discussões, meus erros fazem parte do meu ser, não apenas do meu prazer. O erro é relativo a quem enxerga e não a quem comete: quem identifica o erro torna o erro existente, mesmo sem o ter cometido. Sou ainda mais única por isso. E mais imunda por isso também. Aliás, todo mundo tem um quintal sujo no fim da casa: quintais completamente limpos não quintais.

E da imundície, da podridão, do estrume, nascem das mais belas flores à exuberância amazônica, que seria apenas um grande nada no lado esquerdo, largo, do Brasil, sem a massa preta, constantemente renovada de matéria orgânica, oriunda da morte – as folhas, os bichos que têm o chão como primeiro e último destino – e tão cheia de vida.

Tão fértil quanto é o solo negro – que quanto mais negro mais fértil é – seja esse amor latente, que tenha ardor, mesmo em tamanha imundície que os olhos possam julgar. Que fértil seja, que nasça, e cresça, e roube toda a energia do sol e seja vivo, vívido, penetrante, até entrelaçar as almas e tornar-nos não apenas dependentes, mas cúmplices, que juntos, são ainda mais fortes.

Tão forte quanto é o seio da Terra, que tomem as raízes um rumo incerto, porém, profundo, quase sem fim, quase impossível de arrancar, feito restinga nas dunas, que mesmo móveis, não levam – porque não podem, não conseguem – não levam as raízes daquilo que, aparentemente, é assim, tão frágil. Que me prenda o teu seio tanto quanto à Terra pertence a vida.

Tive medo, muito medo, e confesso ainda temer a derrocada do meu mundo. Hoje sei que o grande perigo não é a queda de um império, mas a expansão. Mesmo que a expansão possa ser motivo da queda, é da expansão que falo. E é este mundo egoísta, trancado, que me habita – a água do mar bebe-me e em mim faz crescer um outro mundo – que eu tive medo de engolir o seu mundo que sempre julguei tão inocente. Entretanto, enquanto pus as mãos na sua alma vi não ser tão inocente: você também tem dúvidas, é tão humano quanto eu deveria imaginar. Mas ainda é santo – tem um mundo menos criminoso a esconder.

Agora eu sei que essa fusão sem precedentes não podemos evitar. E, oh! Que desastres hão de ocorrer? Talvez já tenham acontecido. Quem sabe já não passou o pior? A agulha já furou – eis a hora da cura. Cura, naturalmente como a água procura o sal até que dele já não possa mais ser separada. Mata-me de sede, portanto. Faz o sal criar vida em mim, vida que eu ainda estou, assombrada, conhecendo.

Editando:
Esse texto me faz lembrar "The Sensual World", da Kate Bush!
Postando...



Stepping out of the page into the sensual world.
Stepping out...

To where the water and the earth caress
And the down of a peach says mmh, yes,
Do I look for those millionaires
Like a Machiavellian girl would
When I could wear a sunset? mmh, yes,

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Eu brinco de durão, mas morro de medo do mundo!!!!

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