Venha, fogo, venha!

Com tanta chuva quanto temos visto, fica até difícil pensar em fogo, alguns podem dizer. Mas o fogo está na mente. Está na consciência: tranformando, explodindo, derretendo e dando novas formas - até mesmo mudando estruturas químicas; fusão de pensamentos, como a fusão de corpos. Do sol nascente até o clímax do meio dia, do sol escaldante das duas da tarde até a despedida em plena glória, indo embora apenas depois de um espetáculo diário, porém não menos inigualável.
Quem se importa? Ora, todo dia temos o sol e não há nele nada de novo, alguns podem dizer. Mas um dia sem o sol seria a diferença suficiente para criar o nada. A mente, capaz de entrar em atividade tão intensa quanto o calor pode causar àquilo que é físico, também pode ficar estática como um dia sem sol. Como vida sem luz. Tudo é umma coisa só, só uma coisa, afinal.
Quis escrever num diário o comportamento diário do sol, quis escrever um diário só pra ele. Contudo, sem ou com diário ele continuaria cumprindo seu papel. E eu? Quem sou eu? Morro e renasço a cada dia? Esta é a lição que ele quer me ensinar. Uma nova consciência, a cada dia mais consistente e ao mesmo tempo mais aberta. Mais límpida e fluida como a água, a água que o ciclo solar faz girar no seu próprio ciclo. As coisas estão nas coisas, é tudo uma coisa só, e o sol é a eterna chama modificadora. Dentro de mim tento recriar essa chama, e não deixar que ela se apague: nem mesmo porque é noite, não significa que já não haja mais sol - é apenas a sua hora de estar lá, mas estar fora de alcance.
O mês de maio se aproxima, as chuvas ainda estão firmes a cair nos telhados, mas logo o lado claro do ano se abre... Quem se abre com ele? Ele convida os frutos de verão a crescer, convida os seres ao amor e à vida e convida-nos a abrir a consciência em flor, como se abre uma flor do dia, como gira o girassol.
Venha, verão, venha!
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