Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida."
............................................ Epílogo (Canto X) - Os Lusíadas - Luís de Camões
Nesta última parte da mais famosa obra de Camões, o eu lírico se mostra cansado. Cansado não pelo cantar em si, mas por "cantar a gente surda e endurecida".
Desestímulo. Desistência. Desânimo.
Quando a gente vê que fez algo em vão, a vontade é parar.
E quantas vezes as pessoas param, desistem...
Mas ô negócio difícil é POVO!
Costumo pensar que as pessoas sabem o que fazer. Você sabe o que é preciso pra que haja harmonia, e pra que as coisas dêem certo. Eu sei. Cada um de nós sabe. Mas o que ninguém sabe (e nem pode!) é assumir a responsabilidade de outros que fingem não saber o que fazer. Fazer as coisas dar certo não é algo que cabe a mim, ou a Gandhi, ou a você aí. Cabe a todos nós; cada um.
Fico triste toda vez que lembro que Santos Dumont suicidou-se porque viu o 14 Bis virar base pra uma máquina de arrancar fora vidas.
Toda vez que lembro de Einstein mostrando-se pacifista depois de dizer que E = mc.
Quando lembro que Simone Weil morreu após uma greve de fome, dizendo que seu alimento devia ser enviado à França.
Tantos revolucionários juntos não foram o suficiente pra fazer o mundo calar a boca e parar os passos num segundo e na outra hora falarem uma só língua e andarem numa só direção.
Mas esse mesmo teimoso mundo ainda não calou diversos revolucionários, que apenas são humanos.
Pena que esses humanos às vezes, muitas vezes, com o tempo, sentem-se como o eu lírico de Camões.
Cansados.
De garganta rouca.
E com vontade de ir embora.