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sábado, março 31, 2007 

O Afeganistão grita!

Há pouco tempo eu não entendia muito bem... Por que, ultimamente, apareceram tantos livros descrevendo as atrocidades no Afeganistão? Mesmo depois de começar a ler O caçador de Pipas, de Khaled Housseini, que na introdução falava do impacto que a obra podia ter, devido ao recente atentado às famosas Torres Gêmeas norte-americanas, não parecia o suficiente.

Pelo menos até ontem.
Meio chateada, vagueando pelo hipermercado, achava que estava sem paciência para, como de costume, ficar na livraria até meus pais virem atrás de mim. Logo mudei de idéia.

Com o tempo, devorei todas as páginas de Mulheres de Cabul. Emocionante. Perdi as contas de quantas vezes segurei as lágrimas. Arriscando a própria vida, Harriet Logan e uma equipe de jornalistas e intérpretes aliados a uma ONG, fotografaram e relataram a vida difícil das mulheres afegãs sob o domínio talebã (1996-2001). O livro contém fotos e entrevistas com mocinhas, mulheres e senhoras que sofreram a repressão como poucos. Conta como as mulheres simples, de diferentes idades e níveis de instrução encaravam o regime antes, durante e depois do Talebã.

Mulheres não podiam sair de casa a sós. Não podiam usar maquiagem, nem nenhuma outra espécie de roupa a não ser a burkha. Viviam humilhadas, confinadas a cubículos frios onde morriam de tristeza ou pela saúde precária. Até agora estou impressionada com a coragem de uma garotinha, que indo estudar clandestinamente numa casa particular, foi abordada por um grupo de talebãs, sacudida e interrogada duramente sobre onde iria. Mas ela não disse absolutamente nada.

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E a gente que pensa ter dificuldades...
E tantas menininhas desperdiçam uma vida inteira à toa, sem objetivo algum...
Minha dica de leitura; acho que vou comprar. =)

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É uma boa leitura pra você valorizar mais cada vez que você pode rir até cair, entre amigos e amigas, em público. Cada dia que você pode levantar e ir à escola. Cada vez que você pode se maquiar, pôr uma roupa legal e se sentir bem. Cada vez que você pode tocar, dançar, cantar ou mesmo simplesmente ouvir a música que bem quiser.
Você pode valorizar muito mais cada aparente simples coisa do seu dia-a-dia, pelo simples fato de que você as pode fazer.

Agora eu entendo bem.
Em 2001, tropas afegãs e norte-americanas invadiram o Afeganistão e derrubaram o regime talebã (que impôs suas regras radicais e desumanas), estabelecido desde 1996. Não que seja melhor pra eles o "regime de influência Ocidental". Apenas é BEM melhor que a população tenha liberdade: que possam escolher livremente o que querem para si. Afinal, ser humano faz sentido sem isso?
Desde então, o Afeganistão grita.
Grita pra que o mundo inteiro saiba o que ele passou. Que o que pensamos ser sofrimento foi apenas uma pedra no sapato. Pra que nunca mais seja esquecido e não se repita. Pra que a humanidade abra os olhos e nunca mais permita tamanho desrespeito à vida. Daí vêm Mulheres de Cabul, O caçador de pipas (este já fala sobre os anos 70, com o começo da guerra que antecedeu as turbulências talebãs), O livreiro de Cabul (que ainda não li).

Também, quem não gritaria?

É por isso que, afinal, ainda tenho esperanças no nosso ocidente. Mas as coisas não foram sempre "fáceis" por aqui, não. Há não muito tempo, nossas mulheres também não podiam sair às ruas sozinhas, darem um rumo próprio às suas próprias vidas e desfrutarem dos prazeres e das dificuldades de se fazer escolhas.
Que em breve as mulheres de todo o mundo possam gritar juntas, por uma vida mais intensa e feliz.

Ps.: Ontem fui assistir a duas exposições: "Siron Franco" e "A gravura desde o século XV". Lembrei de você!!

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