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segunda-feira, agosto 03, 2009 

Sereia do Mar


Na rede, os cilindrinhos de isopor, já não tão brancos, contam, lembram, testemunham histórias. Hoje, Cícero cansado, resolve sentar no pequeno barco. Olha as redes, que parecem sujas, mas, na verdade, já não são mais tão jovens: como ele mesmo. Toca o queixo, passa a mão, sente a barba rala e começando a ficar branca: cinquenta anos no mar se fazem perceber.

Fim de tarde, esperava as ondas do mar mudarem de direção, esperava o mar querer ir para dentro de si mesmo. E aí podia pôr a jangada de volta no mar, como se procurasse o coração deste, em vez de peixes. Não procurava peixes, de fato. Procurava vida. A vida que vibra debaixo da água, em suas veias cheias de adrenalina, nas barrigas cheias dele próprio e da família. É bom estar no mar. Sou o mar quando nele. O cheiro de maresia, o balançar das ondas, as pernas relaxadas porém firmes a equilibrar-se, o cheiro de sal, sal, sal, o azul, o verde, as cores não-sei-o-quê, a bandeira da jangada balançando: é tudo puro encanto. É tudo lindo demais.

As pessoas compram peixes nos mercados. Enchem as barrigas de seus filhos, lambem os dedos, chupam cada espinha, se admiram das cores. Os peixes. Elas nem sabem que eu pesco. Mas não importa. Eu sou feliz em viver tanta beleza. E ainda mudo o dia de muita gente bonita...

Olha para a Sereia do Mar. Lembra porque aquele humilde barco levava esse nome, sorriu simples e satisfeito, dá umas batinhas na madeira, enquanto tem o corpo moreno, queimado do sol, sentado na velha companheira. Sente que ela também sorri.

E quando a noite cobre o dia como um véu negro infinito, Cícero sabe que é hora de se deixar levar... Os músculos se articulam, se dobram num espetáculo humano diário: a busca. A aventura da busca por ela mesma. Até que já dentro do mar, segura a vela da jangada com mão firme e vigia o mar... Noite adentro, Cícero invoca o milagre da fertilidade: tira a rede cheia de peixes, até que o barco diga que já pode mais com tanto peixe, e o velho Cícero volta para a praia, e baixa as cortinas: o espetáculo não termina, apenas recomeça.

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felizmente também já passei pelo enrosco que é o vestibular. não achei difícil, confesso. há quem, no entanto, ache.

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fantástica a crônica! Cícero veio a mim como uma daquelas pessoas que atingiram a realização na vida. ao que parece, para ele, já se passou o tempo da vontade de crescer na vida, ganhar dinheiro, obter títulos. é como se houvesse atingido um nirvana social, o qual deve ocorrer quando se nota que nem o quadro mais caro do mundo será mais bonito que olhar o mar, ao vivo.

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adicionarei esse blog aos meus favortios, para poder acompanhá-lo sempre. *:

Ola! Sumiu, o que houve?
Nada melhor fazer aquilo que nos faz feliz, seja o que for...pois assim nos sentimos livres de fato!
Apareça em meu blog, estou comemorando 1 aninho no ar.
Bjocas.
Waleria Lima

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