Medo
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
M e d o
Me - do
Medo.
Você tem medo de quê?
Naturalmente, eu diria que o medo é aquilo que nos impede da exposição a situações que, supostamente, oferece risco.
Mas de tantos lugares diferentes nós já fomos prejudicados, que hoje é difícil estabelecer padrões sobre o que deve ou não tornar-se objeto de medo.
Sociedades inteiras moveram-se, e quando chegaram ao destino, mataram quem acreditava que iria viver melhor.
Mães abandonaram filhos.
Precisamos de ajuda pra proteger-nos dos pobres que não têm o que comer. Porque eles vão vingar a desigualdade social em vítimas menos atingidas.
E que acontece depois de toda essa vida?
A gente morre.
Morre com medo.
E simplesmente acaba.
É triste, não é?
Mas pode ser pior. Pior quando, mesmo depois de morto, ainda tem gente que diz que há motivo pra medo. Nem quando morre, essa história acaba. O centenário medo de ir pro inferno, ou de ficar preso milhares de anos a uma condição.
Quanto medo!
O medo dominou os corações de cada um e do povo como um todo. É uma densa nuvem de fumaça que não permite que as pessoas enxerguem nada, além da densa nuvem de fumaça.
Mas...
Ande agachado.
Rasteje.
Cave.
Ache os lençóis subterrâneos de água, ou ande na pontinha dos pés, até fugir da névoa negra.
É cada vez mais difícil e necessário fugir desse sufoco.
Senão, ninguém vive, não dá.
E quando achar a água pura e límpida dos leçóis d'água, beba com vigor. Sinta cada molécula de H20 descendo e molhando sua garganta, sinta prazer nisso.
O mesmo quando conseguir achar o ar puro. Encha os pulmões de ar puro, e expire toda a fumaça preta que entrou antes.
Quando não tiver medo, quando estiver alegre, seja alegre até a última pontinha de alegria. Porque, infelizmente, o medo existe.
E existem aqueles que passam toda a vida com medo.
E existem aqueles que enfrentam o medo com as outras coisas boas que acumularam, usando de munição.
Meu incentivo é: que você esteja superarmado, a vida inteira. Ou pelo menos, enquanto houver medo.
(Imagem: PORTINARI, Candido Mulher com filho morto)
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa e Prosa)
M e d o
Me - do
Medo.
Você tem medo de quê?
Naturalmente, eu diria que o medo é aquilo que nos impede da exposição a situações que, supostamente, oferece risco.
Mas de tantos lugares diferentes nós já fomos prejudicados, que hoje é difícil estabelecer padrões sobre o que deve ou não tornar-se objeto de medo.
Sociedades inteiras moveram-se, e quando chegaram ao destino, mataram quem acreditava que iria viver melhor.
Mães abandonaram filhos.
Precisamos de ajuda pra proteger-nos dos pobres que não têm o que comer. Porque eles vão vingar a desigualdade social em vítimas menos atingidas.
E que acontece depois de toda essa vida?
A gente morre.
Morre com medo.
E simplesmente acaba.
É triste, não é?
Mas pode ser pior. Pior quando, mesmo depois de morto, ainda tem gente que diz que há motivo pra medo. Nem quando morre, essa história acaba. O centenário medo de ir pro inferno, ou de ficar preso milhares de anos a uma condição.
Quanto medo!
O medo dominou os corações de cada um e do povo como um todo. É uma densa nuvem de fumaça que não permite que as pessoas enxerguem nada, além da densa nuvem de fumaça.
Mas...
Ande agachado.
Rasteje.
Cave.
Ache os lençóis subterrâneos de água, ou ande na pontinha dos pés, até fugir da névoa negra.
É cada vez mais difícil e necessário fugir desse sufoco.
Senão, ninguém vive, não dá.
E quando achar a água pura e límpida dos leçóis d'água, beba com vigor. Sinta cada molécula de H20 descendo e molhando sua garganta, sinta prazer nisso.
O mesmo quando conseguir achar o ar puro. Encha os pulmões de ar puro, e expire toda a fumaça preta que entrou antes.
Quando não tiver medo, quando estiver alegre, seja alegre até a última pontinha de alegria. Porque, infelizmente, o medo existe.
E existem aqueles que passam toda a vida com medo.
E existem aqueles que enfrentam o medo com as outras coisas boas que acumularam, usando de munição.
Meu incentivo é: que você esteja superarmado, a vida inteira. Ou pelo menos, enquanto houver medo.
(Imagem: PORTINARI, Candido Mulher com filho morto)
Eu temo. Ponto. Nem sempre sei o quê.
Saudades da minha irmãzinha fofa. ^^
Posted by Anônimo | 23 janeiro, 2007 05:01
hum..interessante!!
adorei..
continue com suas idéias!
quero ler mais!
bjos!
Posted by Anônimo | 31 março, 2007 17:12