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segunda-feira, maio 03, 2010 

Quando eu não sonhar com você

Já sonhamos com uma casa à beira do lago, quando dois anos desafiavam nossa vontade. Sonhamos com uma casa ao pé da montanha, em silêncio mental, imaginação calada. Já sonhamos com uma casa pequena, assim, pequenina pra gente não ter muito o que varrer. E hoje sei que o sonho foi tudo aquilo que já vivemos – juntos ou não – e, continuamos sonhando. Só alcançarei a realidade, quando concreta for a visão do seu sorriso dizendo que o dia já é dia, o sol morrendo de inveja lá fora. Em canções, falamos da realidade; tocamo-las, quase, ao tocar com os dedos, o rosto doce de cada um. Embalamos nossos desejos no ritmo das palavras, dos sussurros, das respirações ofegantes... mas ainda não temos os pés no plano real.

Não sou a garota rica, você o menino pobre, nem vice-versa. Não vivemos o amor rápido e intensificado que precede uma tragédia iminente. Nunca fomos rivais, nem sequer nossos pais. Isso não é maravilhoso? Somos duas pessoas pobres e simples, compartilhando a vida e ainda sentindo o sangue arder nas veias quando as mãos largam o corpo do outro. Antes, anos separavam-nos, agora, por quatro deles estamos unidos. E fico feliz como uma criança que ganha uma loja de doces quando percebo que estamos bobos diante das mesmas coisas e ainda nos sufoca o beijo que parece nos tornar um corpo só.

Quando acordarmos do sonho, ah, sim, quando estivermos numa casa qualquer, eu vou fingir que te rejeito, vou ouvir música velha pra te irritar: não vou conseguir. Você me persegue em qualquer plano, sabe me seguir, me prever, me sentir, me... Encontrar pássaros cantando é surpresa; surpreender-me-á qualquer desvio de atenção, se não me permites. E a cama? Eu perguntaria melhor: e a casa? É só aparato. O som do mar se calará em seus sussurros, a casa se perde em tamanha pequenez. No toque do seu nariz o mundo começa e termina.

E aí estaremos perdidos na vida real, depois de uma longa noite de sono e chuva e trovões e relâmpagos sem que nada tenhamos ouvido ou visto. Confissão: desde criança tenho o mesmo pesadelo: alguém me persegue, e no sonho tenho consciência de que não posso vencer ninguém, porque tudo se resume ao perseguidor. E se a realidade mandou recado pelos meus sonhos? Profecia! Nunca pensei que eu poderia não querer vencer...
Tudo que eu nunca soube talvez não fosse pra saber, tudo porque ainda não chegou o tempo de ser, de a plenitude estar sob meus pés. E quanto mais eu penso, mais quero, mais lembro, mais choro. Ah, eu choro, delicado coração sem dó. Sem nem parecer, de duro se fez pra melhor passar. Em troca, ganho de você chocolate e brincadeiras de medir força, a força que eu não tenho de resistir ao seu carinho. Ganho suas declarações falando dos seus cabelos brancos do futuro.

Quando eu puser os pés na nossa casinha, vou sentir o gosto agridoce, depois doce das tristes melodias blues e bossa: vou procurar a doença só porque estou curada antes mesmo de adoecer. Meu amor, minha casa, meu coração, tudo uma coisa só...

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