Mal Secreto
Mal Secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
Muitas vezes eu quis ter eletrodos portáteis que me permitissem ver o que alguém está pensando. As palavras são os meios mais óbvios, porém, menos confiáveis de ver o que há na mente alheia. Por vezes as expressões faciais e gestos são apontadas como “espelhos da alma”, mas já inventaram o teatro.
Cada um tem seus segredos. Acho que todo mundo nunca contou tudo pra alguém. Sempre há coisas que, de tão nossas, levamos pro túmulo para apodrecer com a gente. Nunca se sabe quem é quem porque nunca se sabe o que “quem” pensa.
Entretanto, inúmeras vezes sentimos vontade de compartilhar nossos sentimentos, vontades, novidades, tristezas e alegrias. É como um copo que transborda: sozinhos, não podemos conter nosso conteúdo e derramamos em outras pessoas. Somos crianças que foram brincar de esconde-esconde e, de repente, já não sabemos sair do esconderijos.
Péssimos são as vezes em que não podemos compartilhar porque é vão... Porque é inútil discutir quando tudo que se quer é um acordo democrático, de meio-termo. É como se o copo já não pudesse conter o que o preenche, porém estivesse completamente lacrado, a ponto de explodir.
Explosão.
Enquanto não explodimos, porém, somos um recôndito de sentimentos escondidos, um último refúgio para a alma, até que esta já não suporte a pressão.
Que abram este maldito copo!
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
Raimundo Correia
Muitas vezes eu quis ter eletrodos portáteis que me permitissem ver o que alguém está pensando. As palavras são os meios mais óbvios, porém, menos confiáveis de ver o que há na mente alheia. Por vezes as expressões faciais e gestos são apontadas como “espelhos da alma”, mas já inventaram o teatro.
Cada um tem seus segredos. Acho que todo mundo nunca contou tudo pra alguém. Sempre há coisas que, de tão nossas, levamos pro túmulo para apodrecer com a gente. Nunca se sabe quem é quem porque nunca se sabe o que “quem” pensa.
Entretanto, inúmeras vezes sentimos vontade de compartilhar nossos sentimentos, vontades, novidades, tristezas e alegrias. É como um copo que transborda: sozinhos, não podemos conter nosso conteúdo e derramamos em outras pessoas. Somos crianças que foram brincar de esconde-esconde e, de repente, já não sabemos sair do esconderijos.
Péssimos são as vezes em que não podemos compartilhar porque é vão... Porque é inútil discutir quando tudo que se quer é um acordo democrático, de meio-termo. É como se o copo já não pudesse conter o que o preenche, porém estivesse completamente lacrado, a ponto de explodir.
Explosão.
Enquanto não explodimos, porém, somos um recôndito de sentimentos escondidos, um último refúgio para a alma, até que esta já não suporte a pressão.
Que abram este maldito copo!