terça-feira, março 02, 2010 

Comunicando sem comunicar

Muito tempo sem postar, ein? Nem me fale. Fim de semestre é assim mesmo...

Bom, na próxima segunda faço uma apresentação na disciplina de Sociolinguística (quase que eu ponho o ¨... e agora, pra perder o costume?). O tema? Competência Comunicativa. Achei um vídeo no Youtube bem... interessante. Confira:




Pra começar, esqueça o título do vídeo. O problema aqui não é burrisse. Não se trata de uma falta de competência (entenda-se por competência aqui a definição de Chomsky, quando se refere à capacidade inata que todo ser humano tem de desenvolver a lingugem através de mecanismos psico-biológicos que lhe são inerentes). Mas é isso que acontece quando alguém se vê numa situação comunicativa em que entende que são necessárias ferramentas linguísticas (vocabulário, conceitos, conjugações verbais), porém, não as tem. É que quem não tem cão não caça porque pra isso o gato não serve. Se levar o gato, é nisso que dá: a pessoa perde-se no próprio discurso, inventando termos, estruturas, na tentativa de atingir uma outra variedade linguística.

É o que se observa claramente quando a entrevistada responde à pergunta Você acredita em céu e inferno?. Na verdade, ela quer dizer que céu e inferno são conceitos simbólicos que podem ser manifestos pelo estado de espírito, ou comportamento das pessoas. Então ela tenta comparar com uma loja: de lá voltamos com os produtos que caracterizam aquela loja. Se vamos em uma loja de calçados, voltamos com as sandálias. Se entramos num estado de espírito infernal, "saímos de lá", ou seja, transmitimos isso às outras pessoas. Desse modo, traz-se coisas boas ou ruins do interior do próprio ser. Contudo, o que observamos é que a entrevistada acaba se perdendo na comparação que tenta elaborar, dificultando a transmissão da mensagem.

A entrevistada se perde ainda mais quando, por exemplo, tenta explicar conceitos místicos, mitologia e literatura, saúde e até Petrefiolismo (vocábulo que ela cria para deixar mais elaborado o discurso tentando utilizar-se de palavras de uso restrito). Isso prova que doida ela não é coisa nenhuma, pois é capaz de perceber uma situação que requer um outro comportamento, tanto linguístico como social. Note, por exemplo, como ela se mexe, sorri, abre a boca, provavelmente na tentativa de imitar entrevistados que deve ter visto na TV.

Aqui entra a lição. E uma mensagem direta à responsabilidade do professor. É preciso que o mesmo preocupe-se não apenas em ensinar a seus alunos a variante padrão da língua portuguesa, que crua vai parecer pouco ou nada atraente, vai soar inútil. Antes de tudo, faz-se necessário que o aluno entenda que ele já domina sua língua e é perfeitamente capaz de comunicar-se através dela. A novidade é acrescentar ao conhecimento do aluno novas ferramentas linguísticas, de modo que o próprio possa dispor-se das ferramentas requeridas pelas mais diversas situações. E depois de ensinar porque o trabalho é importante, o aluno adquire as ferramentas e vai aprendendo a encaixar cada peça em seu devido lugar.

Escola não é pra ensinar língua portuguesa. É pra desenvolver competência comunicativa em língua portuguesa.

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