Já não têm casa, família, nome, dignidade. Estão cercados de telefones e computadores, parece serviço secreto com um ideal pelo que lutar. Na verdade, lutam, mas não por um ideal seu, seu como um filho. Lutam para manter não só o emprego mas o status, e, por extensão e sem querer, têm nas mãos o futuro incerto de muita gente.
Gente que nem sabe que eles existem, gente que sequer poderia compreender o que eles dizem ao telefone, não pelo idioma, mas pelo jargão ou mesmo só pela velocidade dos sons, mais adivinhados que absorvidos por aqueles a quem se destina a mensagem de origem.
A bolsa de valores cai e esperamos, desesperadamente, que não se repita a manchete de 1929, a Grande Depressão dando “oi” na capa. Ninguém escolhe, ninguém define, ninguém decifra os próximos segundos: a bolsa atingiu um dinamismo sobre-humano – quem diz conseguir acompanhar o aumento da cobrinha nos gráficos mente descaradamente.
Quem devia se importar com o que eles sentem? Sensacionalismo, talvez fosse taxado os comentários de alguém que pensasse na hipótese de considerar os possíveis pensamentos das máquinas humanas. Sentem-se um pouco mais humanas frente ao computador – têm a leve ilusão de que ainda controlam alguma coisa. Caso contrário, seriam os próprios computadores.
Não gostaria que o feijão, o arroz ou o ovo ficassem mais caros. Não gostaria de ver o financiamento da minha casa destruir meus outros sonhos fora a casa própria. Não quero ver minha nação subjugada, a clamar aos pés dos banqueiros, a ver como única esperança o que eles dizem poder fazer – e estão fazendo.
É fácil viver assim, fácil demais – é só passar o resto da vida a mendigar – não é? Espere as próximas gerações. Espere mais vinte, trinta, quarenta anos. Quem sabe os problemas sejam outros. Ou quem sabe, seja simplesmente uma nova ordem.
Quem sabe?
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