quinta-feira, abril 10, 2008 

A Classe C


Anunciada como uma parcela considerável da população, privilegiada por um significativo aumento do poder aquisitivo, ganhando um número crescente de participantes, a Classe C está em foco. Foi anunciada, pela Veja, em matéria de capa, como “A classe dominante”. Mas, até que ponto a Classe C domina?

O aumento da renda dos brasileiros é real e observável. Mudam os móveis, compram TV de tela plana, crianças têm celulares... Não há como não perceber a mudança no estilo de vida quando um cidadão passa a ganhar por volta de R$12 000,00 por ano. Porém, aumentar o salário, não necessariamente significa melhorar as condições gerais de vida da população ou mesmo das famílias.

É necessário que o que se ganha a mais seja bem aplicado. Poupanças, planejamento de gastos, melhoria da alimentação refletem um melhor uso do dinheiro. Desse modo, os produtos de compra serão mais bem usufruídos além de evitar-se que o dinheiro seja gasto desnecessariamente.

Isso leva a um outro problema brasileiro: a educação. Por exemplo, uma pessoa comum como seu Antônio ganha R$600,00 ao mês para sustentar a família de quatro componentes. Quando a renda mensal passar para R$1 100,00, como a maioria dos brasileiros, em vez de comprar melhores alimentos, ele vai comprar mais comida, porque ele tem dinheiro para isso. O dinheiro que poderia ir para uma poupança e, futuramente, ser investido em educação para os filhos, uma casa, ou até uma viagem, vai ser gasto e não vai ser suficiente para despesas advindas de novos hábitos de consumo. Assim, ele faz parte da Classe C: compra muito, faz muitos empréstimos, e aparece no Jornal dizendo, feliz da vida, que agora a vida melhorou porque ele ganha mais. Daí o seu Ernesto, também, na mesma situação, anima-se em saber que faz parte de uma classe com alto poder de consumo e vai às lojas, muito animado, comprar ainda mais, porque é da Classe C, a Classe dominante.

E quem mais lucra com essa história toda?
Empresas da bolsa têm em 2007 o maior lucro do governo Lula
[...]
O melhor desempenho pelo quinto ano consecutivo é o do setor bancário que em 2007 alcançou R$ 28,7 bilhões.
Estadão, 10 de abril de 2008


Mais uma vez, os grandes empresários, a dinâmica capitalista, detentores não apenas das riquezas monetárias, mas do palco das decisões sociais, políticas e econômicas a nível nacional. Só que isso não passa no Jornal Nacional.

Mas, supondo que o aumento vá para o bolso de alguém que tem noções de mercado, consumo e tem profissão e objetivos definidos, além de planejamento econômico e familiar. Fica óbvio que o dinheiro será mais valorizado por ser melhor aplicado, e logo, virão novos aumentos e o progresso até onde os limites estiverem. Entretanto, a população brasileira, em sua maioria, está longe dessa realidade. A níveis educacionais, a escola pública envergonha.

Os resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) divulgados ontem (3) expuseram o abismo que separa a qualidade do ensino médio privado do público na capital paulista: quase 75% das escolas estaduais tiveram média inferior à do pior colégio particular da cidade (confira o ranking abaixo).

Folha de São Paulo, 4 de abril de 2008

Apenas 12,1% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos estão matriculados em algum curso superior. O número, divulgado ontem, mantém o país distante da meta do Plano Nacional de Educação de chegar a pelo menos 30% em 2011.

Folha de São Paulo, 20 de dezembro de 2007

De onde virão os consumidores conscientes senão através da educação? A propaganda, as estratégias de mídia e jornalismo sobre que será ou não divulgado afeta os cidadãos, verdade seja dita. Entretanto, apenas afeta o quanto se permite. O consumo consciente é um conjunto de estratégias que constrói uma sociedade equilibrada, e, individualmente, influi de modo direto, na melhoria das condições de vida, por os recursos disponíveis são usados racionalmente.

Assim, faz-se necessário que, antes de comemorar o aumento do salário torrando tudo de uma vez, o dinheiro seja guardado, pois quando bem administrado, este vale mais do que aparece em qualquer extrato: vale satisfação e contribuição nacional.

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