sexta-feira, dezembro 14, 2007 

Psicodelia do dia-a-dia


E aquele cheiro de coisa queimada? A vizinha não tá nem aí. Continua poluindo meu ar. Aquele odor privou-se da cor preta, ou escura, que muitos cheiros ruins têm. Ou fedores, como chamam por aí. Mas quando finalmente se juntam o cheiro estranho e a cor estranha, interpretamos como ruim, e fazemos aquela careta. A gente se afasta, vai pra longe de onde entendemos ser a fonte do cheiro.

E aquele sol na sua cara de manhã cedo? Depois de passar umas seis (ou mais, ou menos) horas de olho fechado, com todas as luzes da casa apagadas, apagam a luz da lua pra acenderem a luz do sol, que vem pra calar todas as outras luzes. É tanto que é desperdício ligar a luz dentro de casa depois das seis da manhã. E aí você acorda, vai para algum lugar, cumprir alguma rotina, e enfrentar o sol que insiste em te encarar até que você encontre um abrigo que te esconda dele. Mas o melhor mesmo é quando, sem querer, a gente encara o sol, assim, olho a olho. E ele cega a gente. Fica aquela mancha preta durante uns bons minutos, castigando a visão da gente. E distorcendo, escurecendo as cores à nossa frente.

Já parou pra pensar no quanto você é afetado pelo que sente?

Também sinto calor quando, não raro, faz uns trinta e tantos graus Celsius. Sinto um frio bom de sentir quando viajo (rara e infelizmente) pra alguma serra.

Ouço a barulheira infernal desta cidade. Ouço o timbre da minha voz que tanto amo. Ouço as minhas músicas favoritas e viajo longe, pra onde nem eu sei onde. Não me descubro em lugar nenhum, só sei que fui desconectada do mundo onde pessoas caminham e pássaros voam e pousam.

Falo à beça, encho o saco de muita gente, impressiono outros. Gesticulo, faço careta, mostro o que sinto sem querer, arrependo-me às vezes.

Eu vivo, santo Deus, sinto que vivo!
imagem: Nonoemi/Deviantart

sábado, dezembro 01, 2007 

Mal Secreto

Mal Secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!


Raimundo Correia





Muitas vezes eu quis ter eletrodos portáteis que me permitissem ver o que alguém está pensando. As palavras são os meios mais óbvios, porém, menos confiáveis de ver o que há na mente alheia. Por vezes as expressões faciais e gestos são apontadas como “espelhos da alma”, mas já inventaram o teatro.

Cada um tem seus segredos. Acho que todo mundo nunca contou tudo pra alguém. Sempre há coisas que, de tão nossas, levamos pro túmulo para apodrecer com a gente. Nunca se sabe quem é quem porque nunca se sabe o que “quem” pensa.

Entretanto, inúmeras vezes sentimos vontade de compartilhar nossos sentimentos, vontades, novidades, tristezas e alegrias. É como um copo que transborda: sozinhos, não podemos conter nosso conteúdo e derramamos em outras pessoas. Somos crianças que foram brincar de esconde-esconde e, de repente, já não sabemos sair do esconderijos.
Péssimos são as vezes em que não podemos compartilhar porque é vão... Porque é inútil discutir quando tudo que se quer é um acordo democrático, de meio-termo. É como se o copo já não pudesse conter o que o preenche, porém estivesse completamente lacrado, a ponto de explodir.

Explosão.

Enquanto não explodimos, porém, somos um recôndito de sentimentos escondidos, um último refúgio para a alma, até que esta já não suporte a pressão.
Que abram este maldito copo!

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