quinta-feira, julho 26, 2007 

Síndrome infantil do pós-tv

Onde eu vou estar segura?

Na barriga da minha mãe (no útero, né?)... Uma hora eu fico grande demais pra caber...
A 30.000 pés, na janela do avião? ... Ele pode cair, meu enterro vai aparecer na TV e meus amigos serão filmados sem sorriso algum.
Num ônibus? ... Mas ele pode virar, bater em algum animal na estrada, o motorista pode encher a cara.
Em casa? ... Eu posso brigar com a família, podem invadir lá em casa, roubar tudo e quebrar o que sobrar.
Debaixo da ponte? Pode vir um terremoto e derrubar tudo.
Na praia? Pode vir uma tsunami.
Na lua? Uma hora meus cilindros de oxigênio vão esgotar. A nave pode quebrar. A comida vai faltar.
No banco de madeira dessa praça? Se eu ficar aqui, vou estar no meio da rua, porque sou pequena, mas não como cupim, pra penetrar na madeira.
E no meio da rua? Ta doido? Vou ser atropelada, roubada, estuprada e ainda cortada em pedacinhos... Vi na TV que isso acontece na rua, e meu pai me disse!
Pra onde eu vou, céus?
Já sei! Pro meu mundinho na minha mente!
Mas uma hora eu vou ficar com depressão profunda, completamente debilitada por ficar reclusa a um mundo irreal.

Pra onde a gente vai, ein? Pra onde eu, com esses meus 8 aninhos de idade, vou? O que vou ser quando eu crescer (se é que eu vou ser, ainda)? Eu já sei. Vou voltar pra casa e comer bolinhos no jantar e parar de pensar nisso, se não fico doida.




imagem: Pelicanh/Deviantart

quarta-feira, julho 25, 2007 

Vou viajar de avião?

Encurraladas de um lado pro outro, cercadas por quatro canais, dos quatro cantos da casa, e do Brasil, atormentados pelo sangue derramado e as lágrimas que restaram...

Há não muito tempo, há uns setenta anos, prováveis lágrimas, ou angústia equivalente, tomou conta do brasileiro Santos Dumont, ao ver seu trabalho, criado para facilitar a vida, sendo usado para matar.

Tem gente que diz que tem medo de voar. Assim, de avião. 42% dos brasileiros, diz a Wikipedia, sob o verbete “aerofobia”. Acho que depois das tragédias recentes, esse número já cresceu.
Ouvi um monte de gente aqui da periferia comentando o assunto. A maioria não tem dinheiro nem pra pensar em viajar de avião, e não só a distância da possibilidade de uma viagem aérea assusta. Muitos ficaram aterrorizados de frente à tv quando viram o desespero das vítimas e seus parentes, amigos...

De quem é a culpa? Deve ser a pergunta mais perguntada ultimamente. É, sem dúvida, importante descobrir as causas e tomar as devidas providências. Entretanto, é bem diferente perguntar de achar a resposta. O que acaba acontecendo é que as autoridades envolvidas e a mídia lançam essa pergunta pras pessoas responderem. E dão alguns flashes do que talvez está acontecendo em prol da busca por respostas. Mas eu tenho mais perguntas:
Depois de perguntar de quem é a culpa, quem vai pagar, agora?
Será que vai surgir alguma nova ONG formada pelas vítimas do acidente e pelas vítimas da dor que a falta de alguém causa, porque, afinal de contas, a Justiça não fez o suficiente ou mesmo quase nada?
É fácil jogar esse montão de perguntas pro povão que vê tv. Passam um monte de reportagens ensinando como funciona um avião, e o que provavelmente aconteceu, desencadeando o acidente. Mas você acha mesmo que esse povo vai poder fazer deveras alguma coisa a respeito? Se eles ao menos pudessem ressuscitar as vítimas... Se as orações, rezas e coisas do tipo fossem convertidas em e-mails, Deus já teria a caixa de entrada estourada umas 666 vezes depois de dois minutos de transmissão do assistente.
Cada qual deve cumprir um papel dentro da sociedade, e, pelo menos teoricamente, cada um exerce a função pra qual é treinado. Não vai adiantar muito dar as perguntas pro povo que vê tv enquanto come... A pergunta não é bem nossa. Eu não entendo nada de aviação. Você aí entende, de fato? Já pilotou ou administrou um avião ou uma torre de controle?

E pior que eles vão continuar a jogar as perguntas pra gente, vão virar as costas e vão aparecendo novos problemas, outros aviões vão caindo, e choro de quem foi atingido vai ficando cada vez mais inaudível, enquanto aquele carro de luxo vai andando em alta velocidade, em rumo ao futuro, que não promete nada de melhor.

Agora resta o medo. Resta gente dizendo que mesmo que tivesse dinheiro pra “andar de avião”, não o faria. Gente que diz que essa estória de que o avião é o mais seguro meio de transporte é pra “boi dormir”. Há sem maneiras de fugir disso. Sem mesmo.
imagem: Joel Silva/Folha Imagem

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quarta-feira, julho 04, 2007 

Óbvio

Do lado de dentro do carro, na noite chuvosa, a luz do McDonald's ainda era visível... Esses outdoors, placas iluminadas, quase já não chamam a atenção das pessoas, porque, acostumadas, o óbvio virou comum. Tente pensar no espaço imenso que uma dessas coisas ocupa na sua visão, e nem por isso ninguém se importa. Daqui uns dias vão inventar um tipo de publicidade além da propaganda enganosa e das faixas e placas enormes: ninguém confia mais em nada e em ninguém e essas coisas enormes no meio da rua já não são de admirar. E agora?

E agora, bem vindo à era dos absurdos admitidos! Dos paradoxos engolidos! Como nitroglicerina que não põe tudo aos ares ao ser agitada, mas explode como bomba de hidrogênio ao sentir uma respiração, jogamos tudo quanto é coisa na frente do caminho quando ouvimos algo que não é de nosso agrado mas não vemos nada demais em encher as ruas de lixo.

Com toda força, aquela luz do McDonald's fica 24 horas acesa, chamando quem quiser ouvir. Matando gente de obesidade e participando da onda capitalista que mata outros de desnutrição. Fazendo crianças por todo mundo acreditarem que ir à Disneylândia é o que há!

Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração coca-cola

Geração coca-cola
- Renato Russo

E tinha um monte de gente escrevendo na testa e na blusa "REVOLUÇÃO", e quando se deram conta, em uma hora, tinham comprado o shopping inteiro, trocando o celular a cada mês.
Consciência e discrição vêm primeiro à euforia no caminho do sucesso.
Imagem de Banksy

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